A solenidade da Anunciação do Senhor por muito tempo foi chamada também de Anunciação da Virgem Maria e foi sempre celebrada no dia 25 de março. Essa solenidade nos recorda um fato muito importante narrado pelo evangelista Lucas (Lc 1, 26-38): o Anjo Gabriel foi enviado à Virgem Maria para anunciar a ela que Deus a tinha escolhido, desde a eternidade, para ser a mãe virginal de Seu Filho. Então, começa para a Humanidade uma Nova Era. Esse fato será lembrado por todos até o fim dos tempos.

anunciação

Para melhor entendê-lo, meditemos nele com São Bernardo:

O mundo inteiro espera a resposta de Maria

Ouviste, ó Virgem, que vais conceber e dar à luz um filho, não por obra de homem – tu ouviste – mas do Espírito Santo. O Anjo espera tua resposta: já é tempo de voltar para Deus que o enviou. Também nós, Senhora, miseravelmente esmagados por uma sentença de condenação, esperamos tua palavra de misericórdia.

Eis que te é oferecido o preço de nossa salvação; se consentes, seremos livres. Todos fomos criados pelo Verbo eterno, mas caímos na morte; com uma breve resposta tua seremos recriados e novamente chamados à vida.

Ó Virgem cheia de bondade, o pobre Adão, expulso do paraíso com a sua mísera descendência, implora a tua resposta; Abraão a implora, Davi a implora. Os outros patriarcas, teus antepassados, que também habitam a região da sombra da morte, suplicam esta resposta. O mundo inteiro a espera, prostrado a teus pés.

E não é sem razão, pois de tua palavra depende o alívio dos infelizes, a redenção dos cativos, a liberdade dos condenados, enfim, a salvação de todos os filhos de Adão, de toda a tua raça.

Apressa-te, ó Virgem, em dar a tua resposta; responde sem demora ao Anjo, ou melhor, responde ao Senhor por meio do Anjo. Pronuncia uma palavra e recebe a Palavra; profere a tua palavra e concebe a Palavra de Deus; dize uma palavra passageira e abraça a Palavra eterna.

Por que demoras? Por que hesitas? Crê, consente, recebe. Que tua humildade se encha de coragem, tua modéstia de confiança. De modo algum convém que tua simplicidade virginal esqueça a prudência. Neste encontro único, porém, Virgem prudente, não temas a presunção. Pois, se tua modéstia no silêncio foi agradável a Deus, mais necessário é agora mostrar tua piedade pela palavra.

Abre, ó Virgem santa, teu coração à fé, teus lábios ao consentimento, teu seio ao Criador. Eis que o Desejado de todas as nações bate à tua porta. Ah! se tardas e ele passa, começarás novamente a procurar com lágrimas aquele que teu coração ama! Levanta-te, corre, abre. Levanta-te pela fé, corre pela entrega a Deus, abre pelo consentimento. Eis aqui, diz a Virgem, a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1,38)” (das homilias em louvro da Virgem Mãe, de São Bernardo, abade. Hom. 4,8-9: Opera omnia, Edit. Cisterc.4, [1966],53-54).

A anunciação na tradição cristã

Ao longo da história, os cristãos reverenciam esse fato em duas orações: a Ave-Maria e o Angelus.

Ave-Maria

A Ave-Maria ou Saudação Angélica nos foi revelada pelo próprio Deus na saudação do anjo Gabriel. O anjo revela a primeira parte dessa oração: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é contigo”. A Igreja acrescentou o nome de Maria. A segunda parte nos foi revelada por Santa Isabel quando, cheia da unção do Espírito Santo exclamou: “Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre, Jesus”. A Igreja, no primeiro Concílio de Éfeso, em 430, depois de haver condenado o erro de Nestório e ter definido que a Santíssima Virgem é verdadeiramente Mãe de Deus, acrescentou a conclusão, ordenando que, a partir de então, Nossa Senhora fosse invocada como tal, por estas palavras: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, (pobres) pecadores, agora e na hora de nossa morte”.

Angelus

O Angelus ou O Anjo do Senhor surgiu na Idade Média para santificar os diversos momentos do dia. Quando não havia suficiente número de relógios, a batida dos sinos das igrejas ordenava a caminhada do dia e lembrava a todos e cena da Anunciação. Por isso, às seis horas da manhã, ao meio-dia e às seis da tarde o povo fazia uma pausa no trabalho para descansar e rezar agradecendo pelo Sim de Maria.

O papa Paulo VI, na Exortação Apostólica Marialis Cultus, a respeito dessa oração escreve:

“As nossas palavras sobre o Angelus Domini desejam ser uma simples mas viva exortação a que se mantenha a costumada recitação, onde e quando isso for possível. Tal exercício de piedade não tem necessidade de ser restaurado: a estrutura simples, o caráter bíblico, a origem histórica que a liga à invocação da proteção na paz, o ritmo quase litúrgico que santifica momentos diversos do dia, a abertura para o Mistério Pascal, em virtude da qual, ao mesmo tempo que comemoramos a Encarnação do Filho de Deus, pedimos para ser conduzidos, ‘pela sua paixão e morte na Cruz, a glória da ressurreição’ fazem com que essa, à distância de séculos, conserve inalterado o seu valor e intacto o seu frescor.

É certo que alguns usos, tradicionalmente coligados com a recitação do Angelus Domini, desapareceram ou dificilmente podem manter-se na vida moderna; mas trata-se de elementos marginais. Resta, pois, inalterado o valor da contemplação do mistério da Encarnação do Verbo, da saudação à Virgem Santíssima e do recurso à sua misericordiosa intercessão; e, não obstante terem mudado as condições dos tempos, permanecem invariados para a maior parte dos homens, aqueles momentos característicos do dia, amanhã, meio-dia e tarde, que assinalam os tempos da sua atividade e constituem um convite a uma pausa de oração” (Marialis Cultus, n. 41).

A Igreja católica celebra a solenidade de Anunciação a partir do século VI no Oriente e do século VII no Ocidente. Muitos se perguntam porque a celebração acontece no dia 25 de março. Uns observam que depois de nove meses, a partir desse dia, no dia 25 de dezembro, acontece o Natal. Outros dizem que a escolha da data foi motivada pelo calendário judeu que no final de março e no inicio de abril marcava o dia 14 de Nisan – Festa da Páscoa. Isso faz muito sentido, considerando que, na Anunciação, com o fiat de Maria, Aquela que pela Paixão, morte e Ressurreição renovou o mundo, iniciou Sua vida entre nós.

 

Em muitos lugares, no dia 25 de março celebra-se a grande Jornada de Oração pela Vida. Não poderia haver data melhor. Rezemos nesse dia juntos agradecendo pela vida, sua e minha, pela vida dos outros e especialmente pela vida dos nascituros. Que nossa oração seja guiada por Santa Faustina Kowalska.

“Hoje desejei ardentemente rezar uma Hora santa diante do Santíssimo Sacramento; no entanto, outra era a vontade de Deus. Às oito horas, comecei a sentir dores tão violentas que tive que deitar imediatamente. Fiquei me contorcendo nessas dores por três horas, isto é, até às onze da noite. Nenhum remédio me ajudou, e vomitava tudo o que engolia. Em certos momentos, essas dores me faziam perder a consciência. Jesus me permitiu conhecer que, dessa maneira, participei da Sua agonia no Jardim de Oliveiras e que Ele mesmo permitiu esses sofrimentos para desagravar a Deus pelas almas assassinadas nos ventres de mães perversas. (…) Quando penso que talvez algum dia ainda tenha que sofrer dessa maneira, tremo de terror, mas não sei se ainda alguma vez vou sofrer dessa maneira; deixo isso para Deus. O que Deus quiser enviar-me, aceitarei tudo com submissão e amor. Queira Deus que eu possa salvar, com esses sofrimentos, ao menos uma alma do homicídio” (Diário, 1276).

 

Pe. André Lach, MIC

Sacerdote da Congregação dos Padres
Marianos da Imaculada Conceição