Nem sempre tudo funciona como esperado e algumas vezes chegamos atrasados na Missa. Mas para a Missa ser válida, ou para comungar tranquilamente, qual é a obrigação mínima? Ouvir as três leituras; ou somente o Evangelho; se perder a homília, ainda estaria bem? Deixando de lado a resposta óbvia ou o legalismo piedoso, do tipo “se você realmente amar Jesus e a Eucaristia jamais chegará atrasado”, como responder adequadamente a esta pergunta? Eu já ouvi várias respostas, a mais comum que, no minimo, você deve ouvir o Evangelho. Como regra simples, ela serviria, mas, na verdade, ela provavelmente perde o ponto principal.

O pessoal dos últimos bancos teria chegado atrasado?

Primeiro, uma observação: quem faz esta pergunta, normalmente é um católico preocupado em seguir corretamente as orientações da Igreja, mas não encontra uma resposta clara em nenhum documento da Igreja. Então, já temos aí um ponto positivo: a boa intenção de agir de acordo com a Igreja.

A regra é que católicos devem participar da Missa (canon 1247) e assistir (c. 1248) nos domingos e dias festivos. Nada é dito sobre quem chegar atrasado ou que deve-se assistir, no mínimo, esta ou aquela parte da Missa. A regra é assistir a Missa, a Missa toda, porque a é uma celebração completa, composta de vários momentos diferentes, mas que no conjunto se harmonizam para prestar culto a Deus através do seu Filho no Espírito Santo. Perder qualquer parte da Missa é perder um pouco do culto a Deus.

Como não há resposta clara para qual parte da Missa se pode perder e ela ser ainda válida, uma alternativa é se perguntar, por que, então, um bom católico está perdendo parte da Missa? O motivo seria justo para manter a Missa ainda como um sacrifício válido? Eis aí uma questão totalmente diferente.

Por um momento vamos aceitar a resposta popular: o mínimo é escutar o Evangelho. Então temos duas pessoas que chegaram atrasadas à Missa, perderam o Ato Penitencial, o Glória e duas leituras, entraram juntas na Igreja durante o Aleluia. Pela regra, ambas estão perfeitamente justificadas. Mas uma pessoa chegou atrasada por que teve que levar o filho doente ao médico, que demorou horas para atender, pediu exames e ainda tinha um engarrafamento no caminho. Outra pessoa estacionou o carro ao lado da Igreja meia hora antes mas resolveu ficar escutando o final do jogo.

Aplicando a regra do Evangelho como limite de validade, ambos estão muitíssimo bem e cumpriram a regra. Eis um problema com regras: elas podem ser simples e claras, o que facilita explicar para as pessoas, mas, as vezes, perdem o ponto essencial da Igreja: amar o próximo. E aí se exige um honesto exame de consciência. Se por acaso morrer agora e chegar perante Deus, meu motivo para o atraso vai soar bem? Saber o resultado do jogo é tão válido quanto atender a um filho doente?

Apenas um último exemplo: o Evangelho é claro ao dizer que se você tem algo contra um irmão, você deve buscar reconciliação. Imaginemos que uma pessoa ao entrar na Igreja, vinte minutos antes de começar a Missa, percebe que agiu muito mal contra seu amigo, sai da Igreja e telefona para pedir perdão pelo seu erro. A conversa toda demora meia hora e a Missa já começou. A Missa será ainda válida?

Acima de tudo, o ensinamento é claro: amar a Deus sobre todas as coisas; amar ao próximo. Em todos os atos, inclusive se ocorrer que por um motivo ou outro você chegou atrasado na Igreja, pergunte-se, sem tentar se enganar: foi por amor a Deus, foi por amor ao próximo ou posso fazer melhor da próxima vez. E se concluir que houve um desleixo, procure a confissão e correção adequada. Provavelmente haverá ainda outra Missa no mesmo domingo, na paróquia ou em outra próxima.

fonte: Tesouros da Igreja Católica