Sou sacerdote há décadas, mas aprendi isso com um menino de 10 anos de idade na semana passada
Há alguns dias, estive em um acampamento de verão com 64 meninos de 10 e 11 anos. Tentei, junto a outros vários sacerdotes e monitores leigos, fazer que todos curtissem e também se aproximassem mais de Deus.
Em um dos dias do acampamento, um menino chamado Miguel veio me procurar e disse que tinha algo importante para me contar, e não podia esperar. Ele estava nervoso e, por alguns instantes, imaginei o pior: que poderia estar machucado, que teria tido problemas com os outros meninos etc. Mas a notícias que Miguel me daria era muito mais séria; algo que, segundo ele, “me deixou alucinado, padre”. Mas o que aconteceu? Passo a palavra ao próprio Miguel:
“Hoje cedo, padre, depois de tomar banho, fui à capela que temos aqui no acampamento. Lá eu me encontrei com o Álvaro, que está aqui comigo. Não tínhamos combinado nada, viu? O que eu fui pedir para Jesus é que meus pais me ligassem hoje, porque eu estava com saudade deles. E o Álvaro foi fazer a mesma coisa na capela. E adivinhe, padre! Eles ligaram! Meus pais e os pais dele! Jesus escuta e realmente responde! Ainda nem consigo acreditar!”
A experiência do Miguel e do Álvaro realmente me emocionou. Por dois motivos: primeiro, porque, mais uma vez, aprendi com a simplicidade que as crianças emanam, essa simplicidade que nos faz ver o mundo com outros olhos. Não foi por acaso que Jesus nos convidou a ser como crianças para entrar no Reino dos céus.
Em segundo lugar, porque pude tocar de maneira muito sensível a proximidade de um Deus que nos ama profundamente, que quer se comunicar conosco, que espera que conversemos com Ele, que confiemos nEle.
Mas o que fazer para chegar a esta simplicidade?
1. Reconhecer-se fraco e necessitado: como reza Santo Anselmo, “ensina-me onde e como buscar-te, onde e como encontrar-te… Tu és meu Deus, meu Senhor, e eu nunca te vi”.
2. Agradecer pelos benefícios recebidos de Deus: “Tu me moldaste e me remodelaste, deste-me todas as coisas boas que possuo, mas ainda não te conheço”.
3. Buscar e não se cansar na oração, mesmo que seja difícil: ” Ensina-me como buscar-te, porque eu não sei buscar-te se Tu não me ensinares, nem encontrar-te se Tu não te mostrares a mim”. Ou ainda: “Que eu te busque em meu desejo, que te deseje em minha busca, que te busque amando-te e que te ame quando te encontrar”.
Sim, o resultado final é o enamoramento. Porque o amor é essa força que nos torna capazes de coisas grandes. E grande é a oração. Além disso, quando alguém ama, volta a repetir os mesmos passos: se sente fraco diante dos perigos que podem afastá-lo do seu amor; agradece sempre o que a pessoa amada lhe dá; procura continuar amando-a com loucura. É um círculo virtuoso que nos eleva cada vez que o começamos.
E vou além: esses passos refletem, de maneira muito nítida, a atitude de qualquer criança. A criança se reconhece fraca e por isso procura o abraço protetor dos seus pais. Agradece pelo que recebe, com os detalhes típicos de uma criança: um beijo, uma flor cortada no jardim etc. E, finalmente, está sempre procurando seus pais, não consegue ficar sozinha, pois intui que esta seria sua perdição.
Então eu me pergunto: será que somos como crianças em nossa oração?
Se ainda não somos, podemos seguir estes três passos simples que aprendemos na oração de Santo Anselmo, passos que foram vividos por muitos santos… e pelos meus queridos mestres espirituais Miguel e Álvaro.
fonte: Aleteia