A Igreja não está no mundo para condenar, mas para propiciar a todos o encontro com aquele amor visceral que é a misericórdia de Deus. É chamada a transmitir a Sua misericórdia àqueles que se reconhecem pecadores: responsáveis pelo mal praticado, que se sentem necessitados de perdão.
A mensagem da misericórdia fala a todos, ninguém excluído, porque todos temos necessidade da comunhão com Deus. É no abraço de misericórdia que nos descobrimos limitados, pequenos, necessitados de perdão e é onde somos verdadeiramente amados, escutados, acolhidos. Dessa experiência, brota em nós a resposta agradecida ao apelo de Jesus: “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36).
Podemos, contudo, correr o risco de ficar nas belas palavras, nos belos discursos. Para que isso não aconteça, precisamos fixar o nosso olhar em Jesus. De fato, o Senhor revelou-nos o Rosto misericordioso de Deus em gestos concretos, indo ao extremo de morrer por nós na Cruz; e ainda, no ato de morrer, perdoar-nos e pedir perdão por nós: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34).
Uma vez que desejamos e queremos encarnar na nossa vida o amor misericordioso de Deus, é útil tomarmos em consideração as atitudes e gestos concretos através dos quais expressamos esse amor: são as obras de misericórdia, enumeradas pela tradição cristã em 7 obras corporais e 7 espirituais.
Suportar com paciência as fraquezas do próximo: Facilmente entendemos o que isso quer dizer. Difícil é viver. O que pode levar-nos a suportar com paciência as fraquezas do próximo? Que boas razões podemos encontrar para amar assim o nosso irmão?
O texto da Carta aos Efésios (2, 4-7) diz-nos: “Revesti-vos, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia (…), suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente”. Se partirmos da luz que esse texto bíblico nos oferece, percebemos que somente com os olhos fixos em Cristo, enraizados e apoiados no Seu amor, é que podemos encontrar forças para suportar com paciência as fraquezas do próximo.
Quanto mais consciência tivermos do amor de predileção com que Deus nos ama, de sermos filhos queridos do Pai e permitirmos que Ele nos envolva em Seu abraço misericordioso, tanto mais nos sentiremos movidos a ser misericordiosos para com o próximo. E tanto mais, se nos damos conta de que Deus quer dizer a esse próximo, através do meu gesto de amor misericordioso, que também o ama com entranhas de ternura e misericórdia.
Suportar significa amar com entranhas de ternura e misericórdia
Ora, quando se ama, dá-se oportunidade àquele que se ama de recuperar a própria dignidade, de levantar-se e de pôr-se de novo a caminho. É o olhar de Jesus sobre a mulher adúltera (cf. Jo 8, 1-11). Suportar, portanto, não é não me importar com a sorte do outro, não é permanecer indiferente, deixar como está, e, menos ainda, desprezar. Suportar é comprometer-me com o outro num caminho de libertação da escravidão do pecado e dos seus males, caminho de crescimento para a plenitude humana na comunhão com Deus. Assim é que Deus procede com cada um de nós: “O Senhor corrige os que ama e açoita todos aqueles que conhece por filhos” (cf. Hb 12, 4-11).
Pe. Agostinho Tavares, CSSP
Pe. Casimiro Krzyzanowski, MIC
Capítulo adaptado do livro Obras de Misericórdia
Artigo extraído da Revista Divina Misericórdia – Ed. 38 – 2016.