O dia de finados deve ser um dia de oração, de homenagem cristã aos nossos entes queridos falecidos, e, também, um dia de reflexão sobre o mistério da morte e da ressurreição que marcam nossas vidas.

A presença da Igreja no momento de luto e de dor leva a solidariedade cristã. (…)Assim falou Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim ainda que esteja morto viverá” (Jo 11, 24). Em outra passagem ele disse: “Todo aquele que crê em mim não morrerá para sempre” (Jo 11, 26).

 

Morremos para viver

Na verdade Jesus está dizendo que não nascemos para morrer. Mas, morremos para viver. Portanto, a morte, para os que têm fé, não interrompe a vida. Não é passageira ilusão. Não é a destruição da vida. Mas, é o encontro com a plenitude da vida que está em Deus. Porquanto, Deus nos criou para a vida plena e não para a morte. Os falecidos que partiram no Senhor, descansam para sempre na paz, na alegria, no convívio dos anjos, dos santos, na plena e eterna felicidade que só encontramos na comunhão com Deus.

Para o cristão a morte é o começo de uma nova vida, realizando sempre o que de bom ele esperou e nem sempre conseguiu neste mundo. É o coroamento da vida. É a perfeita e plena realização humana e cristã. Na perspectiva cristã, a morte se torna bendita porque é nossa libertação. Assim reza a oração do prefácio dos mortos: “Ó, Pai, para os que creem em vós a vida não é tirada, mas transformada e desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível e aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola”.

 

A vida eterna começa aqui

Porém, devemos lembrar que a vida eterna começa aqui e agora. Quem vive com Deus neste mundo viverá com Ele eternamente. Quem tem Cristo na sua vida, vai tê-lo na outra vida. Quem vive no amor e na harmonia com seus irmãos, continuará na outra vida na plenitude do amor. Quem vive uma vida reconciliada e pacificada com seus irmãos, também, continuará na outra vida na perfeita reconciliação. Por isso, a hora de amar, de perdoar, de servir, de espalhar o bem é agora. Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje! Pois, o amanhã pode não acontecer! No momento do encontro final com Deus, de nada vale o dinheiro, o sucesso, o prestígio, a beleza, a fama etc. Porém, o que conta são nossas boas obras e a retidão do agir. Levaremos em nossa bagagem, o bem que realizamos ao longo da vida. Sobretudo para os mais pobres. Pois, assim nos diz a divina sentença: “Vinde, benditos do meu Pai, recebei por herança o reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Pois tive com fome e me deste de comer. Tive sede e me deste de beber. Estive nu e me vestistes” (Mt,25,34). Esta passagem bíblica nos revela que o critério para o nosso julgamento, será o exercício do amor e da caridade para com o próximo, sobretudo, os excluídos que são os mais pobres dentre os pobres.

Os sociólogos os chamam, hoje, de “massa sobrante”, isto é, estão fora do banquete da vida. Temos urgência de encontrá-los como irmãos neste mundo, antes de termos de nos defrontar com eles como nossos juízes diante de Deus! Por isso, o pobre necessitado que bate a nossa porta, além de testar a nossa caridade cristã, pode se transformar num canal ou instrumento de nossa salvação. Frederico Ozanan afirmou: “Precisamos olhar para o pobre como alguém que é igual ou superior a nós. Porque ele suporta aquilo que nós não suportamos: fome, miséria, doenças, falta de moradia e conforto material”.

 

Obra de misericórdia

O Papa Francisco, por ocasião do ano da misericórdia, ensinou que: “A última obra de misericórdia espiritual pede para rezar pelos vivos e pelos defuntos. A essa se pode acrescentar, também, a última obra de misericórdia corporal, que convida a enterrar os mortos. Este último pode parecer um pedido estranho; e, em vez disso, em algumas partes do mundo que vivem sob o flagelo da guerra, com bombardeios que dia e noite semeiam medo e vítimas inocentes, esta obra é tristemente atual. A Bíblia tem um belo exemplo a propósito: aquele do velho Tobit que, arriscando a própria vida, enterrava os mortos apesar da proibição do rei (cfr Tb 1, 17-19; 2, 2-4). Também hoje há quem arrisca a vida para dar sepultura às pobres vítimas das guerras.

Portanto, esta obra de misericórdia corporal não está distante da nossa exigência cotidiana. E nos faz pensar naquilo que acontece na Sexta-Feira Santa, quando a Virgem Maria, com João e algumas mulheres, estavam junto à cruz de Jesus. Depois da sua morte, vem José de Arimateia, um homem rico, membro do Sinédrio, mas que se tornou discípulo de Jesus, oferece para ele o seu sepulcro novo, escavado na rocha. Foi pessoalmente a Pilatos e pediu o corpo de Jesus: uma verdadeira obra de misericórdia feita com grande coragem (cfr Mt 27, 57-60). Para os cristãos, a sepultura é um ato de piedade, mas também um ato de grande fé. Colocamos no túmulo o corpo dos nossos entes queridos, com a esperança de sua ressurreição (cfr 1 Cor 15, 1-34).

 

Presente aos falecidos

Não esqueçamos que para os mortos não bastam oferecer flores, velas e visitas aos Cemitérios. Esses são sinais de algo mais profundo, ou seja: precisamos oferecer orações, súplicas de perdão, sacrifícios e esmolas aos pobres (caridade). São estes gestos cristãos que agradam a Deus e retornam para nossas vidas em forma de bênção, de alegria e conforto espiritual.

A Santa Missa, sacrifício eucarístico, é sem dúvida o maior presente aos falecidos. A Igreja oferece o sacrifício eucarístico da páscoa de Cristo e eleva a Deus suas orações e sufrágios pela salvação de todos os fiéis defuntos, pois, suas almas devem ser purificadas para serem recebidas nos céus entre os santos eleitos.

 

Que as almas de todos os fiéis defuntos, pela infinita bondade e misericórdia de Deus, descansem para sempre na luz de Cristo!

 

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ.

 


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