(Foto: Vatican Media/Vatican News)

Durante a manhã desta segunda-feira (21), o Papa Francisco recebeu os Cardeais e Superiores da Cúria Romana para apresentação das saudações de Natal. O Pontífice iniciou o discurso falando que o Natal de Jesus é o mistério do nascimento que recorda que os homens, mesmo que devem morrer, não nasceram para morrer, mas para recomeçar.

O Santo Padre destaca que este natal fica marcado pela pandemia e pelas crises sociais, econômicas, sanitárias e até eclesiais. Porém, segundo o Papa é uma grande oportunidade de conversão e recuperar a autenticidade. O Pontífice recorda o dia 27 de março. “Quando em 27 de março passado, no cemitério de São Pedro, em frente à praça vazia, mas cheia de um pertencimento comum que nos une em todos os cantos da terra, quando eu queria orar lá por todos e com todos, tive a oportunidade de dizer em voz alta o possível significado da ‘tempestade’ (cf. Mc 4:35-41) que atingiu o mundo: ‘A tempestade expõe nossa vulnerabilidade, deixa descobertas aquelas seguranças falsas e desnecessárias com as quais construímos nossas agendas, nossos projetos, nossos hábitos e prioridades. Isso nos mostra como saímos dormindo e abandonamos o que alimenta, sustenta e dá força às nossas vidas e à nossa comunidade. A tempestade descobre todas as intenções de ‘empacotar’ e esquecer o que alimentou a alma de nossos povos; todas essas tentativas de anestesiar com hábitos aparentemente ‘salvadores’, incapazes de apelar às nossas raízes e evocar a memória de nossos anciãos, privando-nos assim da imunidade necessária para lidar com as adversidades. Com a tempestade, o truque daqueles estereótipos com os quais mascaramos nossos ‘egos’ sempre se preocupavam com sua imagem caiu; e permaneceu descoberto, mais uma vez, aquele (abençoado) pertencimento comum ao qual não podemos escapar: pertencer como irmãos”, fala o Papa Francisco.  

O Santo Padre também afirma que é uma providência a possibilidade de escrever a encíclica Fratelli tutti, que aborda a fraternidade e a amizade social. No documento, o Pontífice diz que ninguém pode enfrentar a vida isoladamente, mas precisa de uma comunidade. Ele evidencia a importância de sonhar com outras pessoas. 

O Pontífice refletiu também sobre o significado da crise. De acordo com o Papa, esse fenômeno afeta tudo e a todos, presente em cada período da história. “A própria Bíblia está povoada por pessoas que foram ‘passadas pelo crivo’, por ‘personagens em crise’, mas que, precisamente através dela, realiza a história da salvação”. O Santo Padre cita diversas crises escritas na Bíblia como a de Abraão, Moisés, Elias, Paulo e de Jesus. “Mas a crise mais eloquente é a de Jesus: os evangelhos sinópticos destacam que inauguram a vida pública com a experiência da crise vivida nas tentações (…) os evangelistas evidenciam que os quarenta dias vividos por Jesus no deserto são marcados pela experiência da fome e da fragilidade”. O Papa destaca que esta reflexão sobre a crise é para alertar os fiéis a não julgar precipitadamente a Igreja com base nas crises causadas por escândalos.  “A esperança dá às nossas análises aquilo que muitas vezes o nosso olhar míope é incapaz de captar (…)Deus continua fazendo germinar como sementes do seu Reino no meio de nós”, evidencia o Santo Padre. 

“O nosso tempo também tem os seus problemas, mas tem igualmente o testemunho vivo de que o Senhor não abandonou o seu povo, com a única diferença de que os problemas vão parar imediatamente nos jornais –sucede todos os dias –, enquanto os sinais de esperança fazem notícia apenas depois de muito tempo e… sempre nem” fala o Pontífice.

Mas, se reencontrarmos a coragem e a humildade de dizer em voz alta que o tempo da crise é um tempo do Espírito, então, mesmo no meio da experiência da escuridão, da fraqueza, da fragilidade, das contradições, da confusão, já não nos sentiremos esmagados, mas conserva sempre a confiança de que íntima as coisas estão prestes a assumir uma forma nova, exclusivamente nascidamente da experiência duma escondida na escuridão

Papa Francisco

O Papa também exorta os fiéis a não confundirem a crise com o conflito, pois são coisas distintas. O Pontífice explica que, geralmente, a crise tem um desfecho positivo, porém o conflito cria um contraste, uma competição e um antagonismo sem solução. “A lógica do conflito sempre busca os ‘culpados’ a estigmatizar e desprezar e os ‘justos’ a justificar, o fim de introduzir a noção – muitas vezes mágica – de que esta ou aquela situação nada tem a ver conosco”. 

O caminho sempre tem a ver com os verbos de movimento. Uma crise é movimento, faz parte do caminho. Ao contrário, o conflito é um caminho fictício, é um girovagar sem motivo nem finalidade, é permanecer no labirinto, é apenas desperdício de energias e ocasião de mal

Papa Francisco

O Papa orienta sempre a conservar uma grande paz, deixar de viver o conflito e estar aberto à crise. “E o primeiro mal que nos leva ao conflito e do qual devemos procurar fugir, é um murmúrio”, destaca o Santo Padre. Por fim, o Pontífice recomenda interrogar-se se quer seguir Jesus com a docilidade dos pastores e segui-lo na crise. “Lembremo-nos que só conhece verdadeiramente a Deus quem acolhe o pobre que vem de baixo com a sua miséria e que, precisamente nestas vestes, é enviado do Alto; não podemos ver o rosto de Deus, mas podemos experimentá-lo ao olhar para nós quando honramos o rosto do próximo, do outro que nos ocupa com suas necessidades” salienta o Papa Francisco.