O Diário de Santa Faustina revela não apenas as experiências místicas vividas por ela. Mas também apresenta muitas reflexões doutrinais e aprofundamentos do mistério de Deus que correspondem plenamente ao ensinamento da Igreja. Um destes ensinamentos é aquele que se refere à identidade e a missão da Santa Igreja. Neste artigo queremos apresentar quatro aspectos da doutrina sobre a Igreja que encontramos no Diário de Santa Faustina: a sua identidade e missão, a sua origem divina, a sua unidade da Igreja e a santidade da Igreja.

 

A Igreja portadora da Vida Divina

 A Igreja é apresentada não apenas como uma estrutura humana organizada em função das tarefas que deve realizar neste mundo, nem apenas como um instrumento de evangelização, mas como um “sacramento” portador da vida divina ou instrumento ação Divina, como lemos no Diário:

 

“Minha filha, medita sobre a vida divina que está contida na Igreja, para a salvação e a santificação da tua alma. Reflete sobre como estás aproveitando estes tesouros de graças, estes esforços do Meu amor” (Diário, 1758).

 

Isto nos leva a refletir sobre o mistério da Igreja em sua realidade mais profunda da sua essência A vida Divina é a graça de Deus, ou seja, aquela realidade espiritual que realiza a santificação e a salvação da pessoa. Como sabemos, a graça de Deus nos toca por meio dos sacramentos que são celebrados na Igreja. Desta forma, a Igreja não apenas anuncia a Salvação realizada por Cristo, mas, por meio dos Sacramentos, faz acontecer, ou atualiza, em todos os tempos e lugares, a mesma salvação de Cristo.

            Esta verdade expressada no Diário de Santa Faustina também a encontramos com palavras muito semelhantes no Catecismo da Igreja Católica, que nos diz o seguinte:

A Igreja está na história, mas ao mesmo tempo a transcende. É unicamente ‘com os olhos da fé’ que se pode enxergar em sua realidade visível, ao mesmo tempo, uma realidade espiritual, portadora da vida divina” (CIC 770).

 

 

A Igreja como Obra da Misericórdia

 Este aspecto da doutrina sobre a Igreja nós encontramos nos louvores da Misericórdia, onde a Igreja é apresentada como nascida das “entranhas” da Misericórdia: “Misericórdia Divina, na instituição da Santa Igreja” (Diário 949).

 

A Igreja existe porque Deus a quis e a criou. Sabemos que toda a ação de Deus nasce do seu desejo de salvação dos homens, tudo que Deus realiza tem o objetivo de conduzir o ser humano a Ele. Tudo o que existe vem do amor misericordioso de Deus.  Quando no Diário Faustina afirma que a instituição da igreja é obra da Misericórdia ela ressalta justamente que a Igreja não é apenas a consequência da reunião do povo de Deus, mas é pensada e desejada por Deus para continuar no mundo a ação salvífica iniciada pelo Senhor, como fruto e manifestação da sua misericórdia no mundo.

Também o Catecismo da Igreja Católica apresenta a igreja como realidade querida por Deus desde a eternidade: “O pai eterno, por seu libérrimo e arcano desígnio de sua sabedoria e bondade, criou todo o universo; decidiu elevar os homens a comunhão da vida divina, à qual chama todos os homens em seu filho: Todos os crêem em Cristo, o pai quis chamá-los a formar a Santa Igreja” (CIC 759).

 

Unidade da Igreja

O terceiro elemento da doutrina sobre a Igreja que encontramos no Diário é sobre sua unidade. Podemos observar no quinto dia da Novena da Misericórdia que o próprio Cristo indica a necessidade de colocar diante do trono da Misericórdia os cristãos separados, com as seguintes expressões:

Hoje, traze-Me as almas dos Cristãos separados da unidade da Igreja, mergulha-as no mar da Minha misericórdia. Na Minha amarga Paixão dilaceravam o Meu Corpo e o Meu Coração, isto é, a Minha Igreja. Quando voltam à unidade da Igreja, cicatrizam-se as Minhas Chagas e dessa maneira eles aliviam a Minha Paixão” ( Diário, 1218).

Utilizando uma linguagem afetiva própria do Diário de Santa Faustina Jesus revela a dor do seu coração pela divisão na Igreja. A unidade é apresentada por meio da imagem do corpo ou do coração do próprio Cristo e por isto mesmo toda separação ou divisão se apresenta como uma dilaceração. Cristo deseja a unidade de sua Igreja, esta unidade não é apenas uma unidade sociológica, mas essencial porque pertence à natureza da própria da Igreja.

Contudo sabemos que a unidade da Igreja desde os primórdios foi de alguma forma ferida. Surgiram dissensões e ao longo dos séculos muitas causaram verdadeira quebra na unidade desejada e querida por Cristo. Estas divisões surgiram certamente por culpa dos homens e de suas inclinações para o mal. Por isso somos convidados a rezar continuamente pela unidade da Igreja.

 

“Misericordiosíssimo Jesus, que sois a própria Bondade, Vós não negais a luz àqueles que Vos pedem, aceitai na mansão do Vosso compassivo Coração as almas dos nossos irmãos separados, e atraí-os pela Vossa luz à unidade da Igreja e não os deixeis sair da mansão do Vosso compassivo Coração, mas fazei com que também eles glorifiquem a riqueza da Vossa misericórdia” (Diário,1219).

 

A Santidade da Igreja

No Diário de Santa Faustina a santidade da Igreja é apresentada como a participação na Santidade Divina. Deus é Santo e derrama sobre a Igreja a Sua santidade:  “O primeiro atributo que o Senhor me deu a conhecer foi a Sua santidade. Essa santidade é tão elevada que tremem diante d’Ele todas as potestades e virtudes. Os espíritos puros cobrem o seu rosto e mergulham em incessante adoração, e têm apenas uma palavra para expressar a maior honra, isto é — “Santo”… A santidade de Deus derrama-se sobre a Sua Igreja e sobre toda a alma que nela vive, embora nem sempre com a mesma intensidade. Existem almas inteiramente divinizadas, enquanto há outras que apenas vivem…” (Diário, 180).

A santidade do Deus que é Santo penetra toda a realidade criada por Deus. De forma especial o ser humano é chamado a corresponder a santidade pelo seu  modo de viver  plenamente a vocação de filho de Deus que lhe foi conferido no dia do batismo. Todos nós somos chamados a viver a santidade, mas a vivemos de modos e com intensidades diversas.

Este modo de falar da Santidade de Deus e da Igreja está em perfeita consonância com a teologia católica, como lemos no Catecismo da Igreja Católica:

A Igreja é aos olhos da fé, indefectivelmente santa. Pois o Cristo, Filho de Deus, que o Pai e Espírito Santo é proclamado o “único santo”, amou a Igreja como sua Esposa.  Por ela se entregou com fim  de santificá-la . Uniu-a a si como seu corpo e cumulou-a com o dom do Espírito Santo, para a Glória de Deus, para glória de Deus” (CIC 823).