Inquisição, Galileu, nazismo e outras calúnias com máscara de verdade.
Quando se trata de história, as lendas contribuem apenas com referências que, em certos casos, podem ajudar a montar alguns quebra-cabeças culturais. É crucial reconhecer, porém, a existência de lendas que não nasceram da imaginação popular e que não foram nutridas de fatos verídicos antes de ser ampliadas ou simplificadas por relatos espontâneos de geração para geração. É o caso das “lendas negras”, boatos perpetuados propositalmente, com base em versões falseadas de episódios reais, para servir a objetivos ideológicos.
A Igreja é um dos alvos preferenciais desse tipo de desonestidade intelectual e moral. E não poderia ser diferente, numa sociedade laica que se autoproclama tolerante e defensora da liberdade de pensamento e de expressão – desde que o pensamento e a expressão estejam de acordo com a sociedade laica.
Mesmo entre os autodeclarados católicos e até entre parte significativa dos próprios clérigos, a ignorância sobre a história da Igreja é vasta. Não bastasse a influência da educação anticatólica, a maioria das paróquias e dioceses oferece minguada ou nula formação em doutrina e em conhecimentos históricos, o que ajuda a explicar a falta de reação dos católicos diante das acusações disparadas contra a sua Igreja em nome de uma suposta “verdade histórica”.
Não se trata de negar o fato de que a Igreja institucional cometeu, sim, erros graves e injustiças patentes ao longo da sua história. No entanto, a “história” ensinada aos alunos de todos os países passa bem longe da imparcialidade. No caso específico da “história da Igreja”, a “educação” laica perpetua as muitas distorções que levaram Fulton Sheen a cunhar uma frase célebre: “Não existem cem pessoas que odeiam a Igreja católica, mas existem milhões que odeiam aquilo que elas pensam que é a Igreja católica”.
(De passagem, diga-se que muitos nomes laicos são espirituosamente enfáticos em alertar para as mentiras que sujam o ensino da história: Will Durant, autor de uma História da Civilização em 11 volumes, declara que “a maior parte da história é adivinhação e o resto é preconceito”. Mark Twain afirma que “a própria tinta com que toda a história é escrita é puro preconceito líquido”. Voltaire proclama que os historiadores são “fofoqueiros que provocam os mortos”. E até Mel Gibson, no início do filme “Coração Valente”, avisa que “a história é escrita por aqueles que enforcaram os heróis”. Não é de admirar, portanto, que “uma mentira repetida mil vezes se torna verdade”, como ensinou, com grande sucesso, Joseph Goebbels).
Levando estes alertas em consideração, o leitor talvez se preste a conhecer agora outro lado das “lendas negras” sobre a Igreja: o lado estudado, por exemplo, pelo jornalista italiano Vittorio Messori, 74, um dos escritores mais traduzidos do mundo em assuntos ligados à pesquisa histórica sobre o catolicismo.
Embora tenha sido batizado quando criança, o jovem Vittorio foi criado em uma família anticlerical e nunca manteve qualquer relação com a Igreja até os estudos universitários. A universidade, onde estudava ciências políticas, seria o contexto perfeito para a ruptura definitiva entre Messori e as possibilidades de algum dia se tornar crente. No entanto, foi exatamente nesse contexto e nessa época da juventude que, a exemplo do amigo francês André Frossard, Messori se converteu ao catolicismo.
Doutor em Ciências Políticas, ele trabalhou no mundo editorial italiano e foi cronista e redator do jornal La Stampa e do semanário Tuttolibri. Passou a destacar-se como profundo investigador do cristianismo, em especial do catolicismo. Lançou obras de repercussão internacional, como “Hipótese sobre Jesus” (de 1977, na qual pesquisou as origens históricas do cristianismo), “Informe sobre a Fé”, (de 1987, a partir de uma detalhada entrevista com o então cardeal Joseph Ratzinger, recém-nomeado prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé) e “Opus Dei, uma Investigação” (de 1996, analisando minuciosamente as “lendas negras” contra a prelatura). Messori foi ainda o primeiro jornalista a fazer uma longa entrevista com o papa João Paulo II, que se transformou no livro “Cruzando o Limiar da Esperança” (1994).
Um livro particularmente representativo das pesquisas históricas de Vittorio Messori sobre o catolicismo foi lançado na Espanha em 1997: “Leyendas Negras de la Iglesia” [“Lendas Negras sobre a Igreja”, sem tradução ao português até o momento].
Trata-se de uma antologia de textos originalmente publicados na Itália em três extensos volumes: “Pensare la Storia” (1992), “La Sfida della Fede” (1993) e “Le Cose della Vita” (1995); respectivamente, “Pensar a História”, “O Desafio da Fé” e “As Coisas da Vida”. A antologia em espanhol selecionou, do vasto material investigativo recopilado por Messori, as partes que mais especificamente abordavam as acusações comuns contra a Igreja no mundo hispânico, tais como a suposta imposição da fé cristã pela força durante a colonização da América, mas sem deixar de lado as versões mutiladas que as fontes laicas disseminaram pelo mundo sobre outros temas quentes, como a relação da Igreja com a Inquisição, o nazismo e a escravidão, por exemplo.
Os títulos dos capítulos do livro dão a mostra das polêmicas abordadas por Messori:
1. Espanha, a Inquisição e a Lenda Negra
2. Espanha e América: mais Lenda Negra
3. A Revolução Francesa e a Igreja
4. Galileu e a Igreja
5. Os Nazistas e a Igreja
6. Os Irmãos Separados e a Igreja
7. A Pena de Morte e a Igreja
8. A Lenda do Santo Sudário
9. Outras Histórias
Nas “outras histórias”, o autor investiga as lendas negras em torno da escravidão, do cinto da castidade, do “ius primae noctis”, das riquezas vaticanas, do islã, de Torquemada, dos papas doentes, de Montecassino, de Gandhi e de Francisco Franco, entre outras.
fonte: Aleteia
No Brasil, o autor Felipe Aquino publicou pelo menos dois livros nos quais é apresentada a riqueza da atuação da Igreja ao longo da história, desmistificando as calúnias construidas pelos pseudo-historiadores. São eles:”Para entender a inquisição” e “Uma História que não é contata“.