Entrevista com Senhora Ewa K. Czaczkowska – Autora do livro “Biografia de uma Santa”
Polônia, Varsóvia, Marymont, 12 de agosto de 2020
Entrevistador: Pe. Marcos Szczepaniak, MIC.
Em 2020, o Pe. Marcos Szczepaniak, MIC, entrevistou a escritora Ewa Czaczkowska na Polônia, leia revelações surpreendentes sobre sua devoção à Santa Faustina. Boa leitura!!!
Pe. Marcos: Senhora Ewa, no início, gostaria de agradecer por aceitar o nosso convite para esta entrevista. Uma grande multidão de devotos da Divina Misericórdia e veneradores de Santa Faustina no Brasil, conhece a Senhora apenas pelo nome e sobrenome, porque é a autora do livro: Siostra Faustyna – Biografia Swietej (2012), que nosso Apostolado traduziu para o português: Biografia de uma Santa (2014), que goza de grande popularidade. Na Polônia, Senhora é muito conhecida, lida e ouvida. Gostaríamos de apresentar sua pessoa ao público brasileiro e fazer com que conheçam melhor a ampla gama de suas atividades. Senhora, de formação, é historiadora e jornalista, com especial interesse em temas religiosos. Já foi premiada várias vezes na categoria de jornalismo religioso. Escreveu belas obras biográficas sobre os grandes poloneses do século 20: sobre o Primaz da Polônia Estevão Wyszyński (logo será beatificado), o bem-aventurado mártir Pe. Jorge Popieluszko, o Sto. Papa João Paulo II e sobre a Santa Faustina Kowalska. De onde Senhora tirou este amor polos temas religiosos? É uma simples especialização profissional ou existe nela alguma motivação interna mais profunda?
Sra. Ewa: É difícil falar de motivos internos, mas certamente não é, como você diz, uma simples especialização profissional, mas uma necessidade de coração. Durante mais de 20 anos trabalhei no no conhecido jornal polonês Rzeczpospolita (Respública), no qual, na maior parte, escrevia sobre a vida religiosa e da Igreja – o que foi uma escolha clara e consciente. Mas o jornalismo religioso não preenchia esta minha necessidade interna, então comecei a escrever livros. Tenho a sorte de poder escrever sobre pessoas que me interessam pessoalmente, me tocam, desenvolvem, influenciam minha vida espiritual e, acredito, me mudam. E também sei que são igualmente importantes para os outros. Estou convicta de que devemos aproveitar bem o tempo que Deus nos deu, por isso não quero escrever sobre coisas ou pessoas que nos desviem do que é realmente importante do ponto de vista da vida eterna.
Pe. Marcos: Em 2014 Senhora publicou o livro Milagres de Santa Faustina, em 2016 O Papa que acreditou – Como Karol Wojtyła convenceu a Igreja ao culto da Divina Misericórdia, e neste ano 2020 um livro para crianças: Santa Faustina e a Misericórdia de Deus. Não escondo, que temos interesse em lançar esses livros também no Brasil. O nosso Apostolado trata em particular da promoção da boa literatura sobre o culto da Divina Misericórdia segundo as formas reveladas a Ir. Faustina. Se percebe que a Misericórdia de Deus ocupa um lugar especial em suas publicações religiosas. Não é por acaso que Senhora é membro da Academia Internacional da Divina Misericórdia. Como Senhora desenvolveu esse amor especial por esta temática?
Sra. Ewa: Ir. Faustina é muito próxima de mim. Foi ela, se assim posso dizer, foi quem me encontrou. Ela entrou na minha vida há um quarto de século atrás, numa época bastante difícil para mim. Eu devo muito a ela. Graças a ela, conheci a devoção à Misericórdia de Deus e também recebi muitas graças. Houve um tempo em que, querendo conhecer melhor a Ir. Faustina, eu visitava todos os lugares relacionados à sua vida. A certa altura, pensei que o único livro que gostaria de escrever na minha vida seria a biografia de Sta. Faustina. Não demorou muito quando de repente recebi uma oferta da Editora Znak para escrever uma biografia de St. Faustina. Não acredito que as coisas acontecem por acaso. E embora eu tenha escrito vários outros livros depois dessa biografia, que foi publicada na Polônia em 2012, ainda é o meu livro mais importante. Escrevi este livro como um voto de agradecimento e estou feliz que os leitores o recebem tão bem.
Pe. Marek: A área de suas pesquisa científicas também é a história e a teoria da mídia, especialmente a moderna. Senhora criou a Fundação Areopag XXI e o site Areopag21.pl – Conversas sobre Deus, fé e religião. Publicou em diversas revistas e portais da Internet. Conduziu transmissões no rádio. Cooperou na criação do Festival de Documentários – Cinema com a alma, do qual também participou a nossa Congregação, inclusive sendo premiada pela sua produção cinematográfica. Sabemos que às vezes as produções da mídia contemporânea são muito “sem alma”, muitas vezes focadas apenas na violência e na sensação. Por favor, nos dê algumas dicas como evitar este perigo.
Sra. Ewa: Você tem que fazer escolhas conscientes, assim como se faz opções e decisões importantes em outras áreas da nossa vida. Afinal, depende de mim o que vou ler, ver, que programas vou ouvir. Com que alimento, no sentido espiritual, vou me nutrir. É por isso que vale a pena procurar, não se contentar com algo, só porque a propaganda investiu muito dinheiro nisso para criar artificialmente algo que não tem valor nenhum e com isso, às vezes sem perceber, ocupamos nosso tempo. O fato, que notícias más, produções sem valor se vende melhor, diz muito sobre o público. É por isso que é tão importante fazer escolhas conscientes e apoiar os criadores de mídias, filmes e livros valiosos. Depende de nossas escolhas se eles permanecerão no mercado. Você tem que ser fiel a si mesmo, às regras escolhidas, ouvir seu coração, tanto no que você faz na mídia quanto no que você recebe da mídia. Isto é possível, embora, no mundo comercializado, se paga um preço. Foi por razões financeiras que nós, como Fundação, tivemos que encerrar o portal Areopag21.pl, mas lançamos com sucesso outro projeto – o festival Cinema com alma. Já tivemos sete edições, este ano tivemos que cancelar por conta da pandemia, mas acredito que no ano que vem vamos nos organizar novamente. Este festival mostra que se existe uma boa ideia, determinação total, trabalho árduo, deve ter sucesso com a ajuda de Deus. Porque realmente existem muitas pessoas famintas por um bom conteúdo, apresentado de uma forma visual atraente. Claro, se o Festival tivesse um tema diferente, seria muito mais fácil para nós conseguir os fundos. Ouvi, mais de uma vez, como um argumento de recusa de patrocinadores em potencial de que somos muito religiosos, espirituais demais. Mas eu não organizaria um festival sobre um assunto diferente. Sim, é uma questão de escolha e determinação.
Pe. Marcos: Atualmente, em tempos de pandemia, o povo da Igreja, nós, padres e leigos, fomos repentinamente “forçados” a uma produção midiática, transmitindo missas, cultos, catequeses, nas redes sociais (instagram, laives, feiceace … etc.), sem qualquer preparação ou experiência na área. Senhora pode nos dar alguma orientação básica para esta forma de evangelização?
Sra. Ewa: Eu também ainda estou aprendendo essa forma de comunicação, porque os desafios ainda são novos. Sei com certeza que nada pode substituir um encontro na vida real, a participação da S. Missa na igreja, mas as redes sociais podem nos preparar para isso, levar a isso e, às vezes, como está agora, até “substituí-la” temporariamente. Quando se trata de uso da Internet, precisamos aprender com as melhores redes sociais, porque as ferramentas para comunicar todo o conteúdo – bom e ruim – infelizmente são as mesmas. No entanto, devemos lembrar – para mim isso é muito importante – para não ultrapassar um certo limite no uso da linguagem dos novos meios de comunicação, além do qual há uma banalização da fé, e até mesmo sua distorção.
Pe. Marcos: Senhora pode nos dizer em que está trabalhando atualmente? Está escrevendo um novo livro? Está se dedicado a alguma missão especial, a algumas novas pesquisas?
Sra. Ewa: No momento, estou trabalhando na edição científica dos diários do Primaz D. Estevão Wyszyński Pro memoria. É um trabalho muito interessante, mas também muito exigente. O cardeal Wyszyński fazia anotações diárias durante várias dezenas de anos do seu ministério. Deixou 27 volumes de seu diário, que é uma fonte rica e única de informações sobre ele, sobre a Igreja e a Polônia daquela época. Muitos especialistas se dedicam à análise científica destes volumes. Eu já estou trabalhando no quinto volume e provavelmente vou parar por aí.
Pe. Marcos: Como historiador, ao escrever sobre Santa Faustina, Senhora teve acesso a muitas fontes. Descobriu algum fato na vida dela que não era, ou era pouco, conhecido aos leitores?
Sra. Ewa: Na verdade, consegui esclarecer ou corrigir alguns fatos da vida de Sta. Faustina. O mais importante foi que consegui descobrir o que a Ir. Faustina estava fazendo e onde morava em 1924, no período entre a viagem de Łódź para Varsóvia e o começo do trabalho como empregada doméstica em Ostrówek perto de Varsóvia, na casa da família Lipszyc. Pude constatar que durante várias semanas no verão de 1924, Faustina morava junto à família Lipszyc em Varsóvia, no centro da cidade, na Rua Smolna, de onde saiu em busca de um convento que a pudesse acolher. Só então ela saiu de Varsóvia para a casa da família Lipszyc, onde passou um ano coletando um enxoval para o convento. Aprendi muito sobre este período da vida da futura santa com a D. Maria, filha da família Lipszyc, que foi cuidada pela Ir. Faustina na sua infância e que viveu até uma boa velhice. O edifício onde a Irmã Faustina vivia em Varsóvia em 1924 ainda existe, embora tenha sido destruído durante a guerra, mas o último andar, onde ela ficou, não foi destruído, permaneceu igual. Gosto de caminhar por esta rua e pensar o que a Faustina viu ao passar por ela há quase cem anos atrás.
Pe. Marcos: O que mais toca e impressiona a Senhora, quando olha a pessoa, a atitude e a missão da Ir. Faustina?
Sr. Ewa: Admiro a força do caráter da Ir. Faustina. Me impressiona e edifica a sua enorme fé e a confiança em Deus – como ela dizia – a confiança até o fim, ao extremo. Admiro com que confiança suportou enormes sofrimentos físicos e morais, pois, por causa das aparições, sofreu muitas humilhações por parte da Congregação. Teve que ser imensamente forte para suportar a tamanha missão que lhe foi confiada e a enorme dose das adversidades associadas a ela. Às vezes penso que ela só aguentou porque Jesus estava constantemente ao seu lado, caso contrário, provavelmente isso seria impossível. Porque viver entre o céu e a terra no meio das pessoas, não é nada fácil. Também estou tocada por sua íntima relação mística com Jesus, o que evidenciam as páginas do Diário. Também é impressionante que, conforme ela tenha anunciado, a sua missão não terminou com sua morte, mas começou. Ela está realmente presente entre nós, como escrevi no livro Milagres de Santa Faustina.
Pe. Marcos: E o Pe. Miguel Sopocko, bem-aventurado e providencial diretor espiritual da Ir. Faustina, como, em poucas palavras, Senhora poderia destacar o seu papel, a importância e a missão no desenvolvimento do culto da Divina Misericórdia?
Sra. Ewa: Ele é o diretor espiritual que Ir. Faustina encomendou para si junto a Deus através da oração. O seu papel no desenvolvimento do culto da Divina Misericórdia é inestimável. Graças ao Pe. Sopocko, temos um “Diário”, porque foi por ordem dele que a Ir. Faustina anotou as suas aparições, e graças a ele foi pintada a primeira imagem de Jesus Misericordioso, ainda em Vilnius, que, juntamente com a descrição do Diário, se tornou a base da mais famosa imagem de Jesus Misericordioso. E, acima de tudo, devemos a ele ter reconhecido a veracidade das revelações da Ir. Faustina. Ele foi um sacerdote santo que tinha o dom do discernimento e da direção espiritual, pelo qual também pagou o grande preço de sofrimento. Mas, devo acrescentar mais uma pessoa a quem devemos o desenvolvimento do culto da Misericórdia de Deus – é o Karol Wojtyła. Ele já reconheceu durante a guerra que este era um culto dado por Deus para aquela época, e fez muito pelo seu desenvolvimento como sacerdote, bispo, cardeal, e quando fez tudo que podia no nível da Igreja na Polônia, tornou-se papa para divulgar este culto na Igreja universal. Já em 1981, João Paulo II disse publicamente que a tarefa que a Providência de Deus estabeleceu antes de seu pontificado era pregar o culto da Misericórdia de Deus. Ele isso já sabia desde o início do pontificado, enquanto nós, acho que só entendemos isso no final dele. Isso sabia também a Ir. Faustina, que em 1938 teve uma visão comovente das mãos de três pessoas, que erguiam um templo como um símbolo do desenvolvimento do culto da Misericórdia de Deus. Ela viu a sua mão, a do Pe. Sopocko e a da terceira pessoa que concluiu este templo, mas não sabia a quem ela pertencia. Estou convencida de que se trata de João Paulo II.
Pe. Marcos: E a última pergunta, ouso perguntar se Senhora estaria aberta a vir ao nosso Santuário da Divina Misericórdia em Curitiba, por ex. no Congresso da Misericórdia no próximo ano 2021, para compartilhar conosco seu rico conhecimento da Sta. Faustina, do Pe. Sopocko e da Misericórdia Divina em geral? E por ocasião, autografar seus livros para seus fãs?
Sra. Ewa: Com muito prazer, desde que a situação epidêmica seja resolvida. Seria bom conhecer o Santuário da Divina Misericórdia em Curitiba, do qual ouvi falar como também dos outros Centros do culto da Misericórdia, dirigidos pelos Marianos no mundo e também conhecer a rica cultura brasileira.
Pe. Marcos: Então, nós, com alegria a convidamos e agradecemos imensamente pela sua entrevista!
** Entrevista publicada primeiramente na Revista Divina Misericórdia**