Eles são obrigados a viver escondidos, para evitar ameaças e retaliações de muçulmanos fanáticos mesmo morando em um país ocidental e com liberdade religiosa.

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Omar*, engenheiro químico vindo do Egito, que tem 55 anos e trabalha como garçom em uma cidade do centro da Itália, era muçulmano – com uma forte tendência para o fanatismo. Depois de mudar-se para a Itália e enfrentar a crise pela morte da mãe, ele começou a ler a Bíblia, o livro do Apocalipse. Depois, apaixonou-se pelas homilias de um pregador cristão egípcio pela televisão e, enfim, alguns cristãos se tornaram seus amigos e o acompanharam até o batismo.

“Agora eu sou feliz. Só me arrependo dos anos que passei sem conhecer a Cristo, mas, como se pode ver, tinha que ser assim. Agora eu renasci, a minha vida mudou. Não que não tivesse problemas, imagine… Mas sou mais paciente, sereno.”

De lá para cá, já se passaram três anos. Para a sua conversão foi decisivo: “Ter visto nessas pessoas – ele conta, ao Vatican Insider – uma humanidade mais completa que a minha e o fato de terem me ajudado sem me pedir que mudasse de religião”.

Porem, fica para Omar uma enorme preocupação: “Não posso praticar abertamente a minha fé cristã: tenho medo que qualquer fanático islâmico possa fazer mal não só a mim, mas sobretudo aos meus parentes que permanecem no Egito. Por que os italianos que se convertem ao Islã podem andar tranquilamente e falar sobre isso na TV e eu, ao contrário, devo esconder-me para evitar retaliações?”

O padre jesuíta Samir Khalil Samir, autoridade internacional em islamismo, responde: “O Islã não é só religião, mas também política, cultura e sociedade. Isso penetra as mínimas coisas. Não existe uma separação entre fé e política, pelo que o seguidor de Alá tem dificuldades em separar o cristianismo do Ocidente. Isso porque um muçulmano que passa a uma outra religião comete uma traição em relação à sua comunidade: não trai só a própria fé, mas ainda o próprio povo, a nação. Em suma, no Islã se pode entrar, mas é vedado sair.”

De fato, em nenhum país islâmico é possível converter-se a outro credo sem sofrer consequências. O crime de apostasia é punido com diversas gradações: da “morte civil” (perda do emprego, da guarda dos filhos e de alguns direitos, rompimento dos laços familiares), chegando ao cárcere e à pena de morte. Todas essas punições fazem parte da lei islâmica, na interpretação de sunitas e xiitas. Recentemente, em Uganda, quatro dias antes de ser decapitado em sua casa, Laurence Maiso, convertido do Islã, teria ouvido do clérigo que Alá não tolerava os infiéis e que “estava para mandar-lhe o anjo da morte em sua casa.”

Segundo o xeique Youssef Al-Qaradawi, autoridade no mundo islâmico, “os juristas muçulmanos são unânimes em dizer que os apóstatas devem ser punidos, ainda que divirjam quanto ao tipo de punição a ser infligido sobre eles”. Em um famoso vídeo da Internet, ele chega a dizer que, “se tivessem se livrado da punição por apostasia, não haveria mais Islã hoje em dia, ele teria acabado logo depois da morte do profeta Maomé”.

Para quem se converteu a Cristo e vive onde rege a lei da charia, nem sempre mudar de país resolve o problema. “Mesmo em terra de migração – diz o padre Samir Khalil –, o apóstata é objeto de reprovação, ameaça ou violência por parte da comunidade a que pertence ou da sua própria família. Daqui vem a necessidade de os convertidos viverem reservados”. Exemplo disso é a família de Nissar Hussain, que já foi várias vezes ameaçada de morte na Inglaterra. “Apesar de tudo isso, o fenômeno dos muçulmanos que se tornam cristãos, graças à TV por satélite e à Internet, se difunde sempre mais”, afirma o jesuíta.

Qual a identidade do muçulmano que abraça o cristianismo na Itália? O perfil designado pelas associações católicas que se ocupam de imigrantes e por quem trabalha com o catecumenato é muito variado. Entre os “novos cristãos” há estudantes universitários, diplomatas, jovens trabalhadores sazonais, viúvas, filhos nascidos na Itália de ao menos um genitor muçulmano, migrantes que solicitam asilo etc.

Por que essas pessoas batem às portas da Igreja Católica? Segundo o padre Pinhero: “Os motivos são diversos: o desejo de integrar-se, a simpatia pelo estilo de vida dos cristãos que conheceram, o reconhecimento pelas associações que os acolheram e ajudaram, o pedido do batismo para o filho nascido em nosso país. Mas creio que o elemento decisivo seja o encontro com cristãos autênticos que vivem plena e alegremente a própria fé em uma comunidade viva e acolhedora, e que sabem testemunhar o Evangelho na simplicidade do dia a dia.”

Alguns chamam esses novos cristãos de “cristãos-fantasmas”, mas eles só fazem parte da tradicional Igreja dos mártires, que não deixa de crescer no mundo inteiro.

*Os nomes verdadeiros foram preservados

Fonte: Padre Paulo Ricardo