Novo documento reafirma a importância dos títulos marianos na vida da Igreja e esclarece a doutrina católica em relação a eles
O documento recorda que “os títulos marianos são expressões legítimas do amor dos fiéis à Mãe de Deus” e que devem sempre conduzir ao essencial: Cristo, Filho de Maria e Redentor do mundo.
Título corredentora não é adequado
Segundo o documento, títulos como Mãe dos fiéis, Mãe espiritual e Mãe do povo fiel estão adequados com a Doutrina. Já o de Corredentora é considerado impróprio. A nota lembra que alguns Papas “usaram este título sem se deterem para o explicar. Geralmente, apresentaram-no em relação à maternidade divina e em referência à união de Maria com Cristo junto à Cruz redentora”.
O Concílio Vaticano II decidiu não usar este título “por razões dogmáticas, pastorais e ecuménicas”. São João Paulo II “usou-o, pelo menos em sete ocasiões, ligando-o sobretudo ao valor salvífico do nosso sofrimento oferecido ao lado do de Cristo, a quem Maria está unida especialmente aos pés da Cruz” (18).
Ainda de acordo com o documento, uma discussão interna na então Congregação para a Doutrina da Fé em fevereiro de 1996 discutiu o pedido para proclamar um novo dogma sobre Maria como “Corredentora ou Mediadora de todas as graças”. O parecer de Ratzinger era contrário:
“O significado preciso dos títulos não é claro e a doutrina neles contida não está madura… Ainda não está claro como a doutrina expressa nos títulos está presente nas Escrituras e na tradição apostólica”.
Posteriormente, em 2002, Bento XVI também se expressou publicamente da mesma forma:
“A fórmula ‘Corredentora’ distancia-se demasiadamente da linguagem das Escrituras e da patrística e, portanto, causa mal-entendidos… Tudo vem d’Ele, como afirmam sobretudo as Epístolas aos Efésios e aos Colossenses. Maria é o que é graças a Ele.” O termo “Corredentora” obscureceria sua origem”.
O cardeal Ratzinger, esclarece a nota, não negou que houvesse boas intenções e aspectos valiosos na proposta de usar esse título, mas sustentou que se tratava de “terminologia incorreta” (19).
O documento cita ainda que também o Papa Francisco expressou como contrário ao uso desse título e conclui:
“É sempre inapropriado usar o título de Corredentora para definir a cooperação de Maria. Esse título corre o risco de obscurecer a mediação salvífica única de Cristo e, portanto, pode gerar confusão e desequilíbrio na harmonia das verdades da fé cristã… Quando uma expressão requer inúmeras e contínuas explicações para evitar que se afaste do significado correto, ela não serve à fé do Povo de Deus e se torna inapropriada” (22).
Maria mediadora
De acordo com a análise do documento, o título de Mediadora é considerado inaceitável quando assume um significado que é exclusivo de Jesus Cristo, mas é considerado precioso quando expressa uma mediação inclusiva e participativa que glorifica o poder de Cristo.
No entanto, em alguns sentidos muito específicos, os títulos de Mãe da graça e Mediadora de todas as graças são considerados aceitáveis.
A nota esclarece que Maria “de modo algum obscurece ou diminui” a mediação única de Cristo, “mas demonstra sua eficácia”.
De acordo com a nota, deve-se evitar “títulos e expressões referentes a Maria que a apresentem como uma espécie de ‘para-raios’ diante da justiça do Senhor, como se Maria fosse uma alternativa necessária à misericórdia insuficiente de Deus” (37, b).
Retomando a reflexão do cardeal Ratzinger, o documento pede que os fiéis tenham cuidado com expressões que possam transmitir “conteúdos menos aceitáveis” (45). De fato, “Nenhuma pessoa humana, nem mesmo os Apóstolos ou a Virgem Santíssima, pode agir como dispensador universal da graça. Só Deus pode dar a graça e o faz através da humanidade de Cristo” (53).
Títulos como Mediadora de todas as graças têm, portanto, “limitações que não facilitam a correta compreensão do papel único de Maria. De fato, ela, que é a primeira redimida, não pode ter sido a mediadora da graça que ela mesma recebeu” (67).
Por outro lado, o documento reconhece que “a expressão ‘graças’, referindo-se ao apoio materno de Maria nos diferentes momentos da vida, pode ter um significado aceitável”. O plural, de fato, expressa “toda a ajuda, inclusive material, que o Senhor pode nos dar ao ouvir a intercessão da Mãe” (68).
Com inf. Vatican News



