Por meio de jogos de linguagem, o mundo tem pintado a Igreja como intolerante, por não acolher as chamadas “novas famílias”. Só cedendo à sua mentalidade relativista é que os católicos aprenderiam o que é misericórdia. Mas, será que as coisas não estão de cabeça para baixo? Não é estranho que, em um passe de mágica, o mundo pareça mais misericordioso que a Igreja?

Quem olha para o Ocidente percebe que ele está “engessado”: existem balizas que dizem claramente o que é e o que não é. Trata-se da ordem natural que Deus imprimiu na estrutura da própria realidade. O mundo tem um Criador e Ele colocou uma lógica (um logos) nessa Criação, lógica à qual o homem nada pode senão obedecer, como indica São Pedro: “É preciso obedecer a Deus antes que aos homens” [1].

Nosso Senhor ensinou os cristãos a dar “a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” [2]. O governo tem o poder de organizar a sociedade, mas não o de refazer a realidade. Assim como os olhos têm a função de ver, os ouvidos, a de escutar, e a boca, a de comer, os órgãos sexuais não são áreas de lazer, mas têm uma função: gerar a vida. Se uma pessoa começasse a alimentar-se indevidamente, qualquer médico a advertiria por estar fazendo mau uso de seu aparelho digestivo e, se um médico decidisse receitar veneno a essa pessoa, alegando romper com a medicina “tradicional”, essa pessoa certamente não aceitaria a sua medicina “alternativa”. Do mesmo modo, quem pede à Igreja que aceite as chamadas “novas famílias” quer que ela venda às pessoas veneno, sob a capa da misericórdia.

Mas, por que distorcer assim a palavra “misericórdia”? Porque, no processo para implantar o governo mundial, os cristãos são um grande entrave. Os globalistas querem, por exemplo, refazer a estrutura social, começando por sua célula-base, a família. Mas, como podem ir adiante se os cristãos acham que existe apenas um tipo de família – homem e mulher, que se unem, com papéis bem específicos, para gerar e formar vidas? Como podem ir adiante se os cristãos ensinam que esta realidade está inscrita na própria lei da Criação, como Jesus ensinou: “Moisés permitiu despedir a mulher, por causa da dureza do vosso coração. Mas não foi assim desde o princípio” [3]?

De fato, ao ensinar às pessoas que existe uma ordem natural e que nenhum governo tem poder para alterá-la, a Igreja Católica atrapalha o projeto de poder mundial. Por isso, ao invés de matarem os cristãos, como faziam em outras épocas, os globalistas tentam inocular um vírus nessa instituição, transformando e redefinindo os valores mais prezados por ela. Graças aos seus jogos de linguagem, então, a ordem da Criação torna-se opressiva e intolerante e a misericórdia de verdade significa “fazer o que se quer”. Ora, o nome disto é “ditadura do relativismo”, e foi condenado por um senhor chamado Joseph Ratzinger [4], durante a abertura do conclave em que ele seria eleito Papa, em 2005.

Com essa “ditadura do relativismo”, a ordem natural cai por terra e os homens se tornam, eles mesmos, deuses, “para além do bem e do mal”. Com a Igreja colocada para dormir, eles detêm o poder total e podem definir livremente como deve ser a família e como deve ser a sociedade. Por ora, sua linguagem é untuosa e cheia de tolerância, mas, quando eles assumem o poder, seus atos denunciam sua verdadeira identidade.

Basta olhar para os regimes comunistas do século XX. Mao Tsé-Tung, Lênin, Stálin e Fidel Castro mataram muito mais homossexuais que qualquer outro governo do mundo. E, no entanto, as mesmas pessoas que se dizem defensoras dos gays apoiam e financiam o socialismo, sem nenhum pudor. Sua boca é untuosa para defender os homossexuais, mas suas mãos estão sujas de sangue, porque são cúmplices das maiores carnificinas contra essas mesmas pessoas. O que eles fazem é usar o movimento gay e os homossexuais para implantar a “ditadura do relativismo” e, na sequência, um governo totalitário.

Referências

  1.  At 5, 29
  2. Mt 22, 21
  3. Mt 19, 8
  4.  Homilia durante Missa “pro Eligendo Romano Pontifice”, 18 de abril de 2005

Fonte: Equipe Nihil Christi Praeponere