No Angelus deste domingo, 4 de agosto, o Papa Francisco recordou em Cura D’Ars, falecido há 160 anos, o “modelo de bondade e de caridade para todos os sacerdotes (…). Que o testemunho deste pároco humilde e totalmente dedicado ao seu povo – foi seu pedido – ajude a redescobrir a beleza e a importância do sacerdócio ministerial na sociedade contemporânea”.
A misericórdia
Um dos traços distintivos de São João Maria Vianney, foi seu profundo sentido de misericórdia, que se manifestava não só nos contatos com as pessoas que o procuravam, vindas de vários lugares da França, mas, sobretudo no confessionário, “onde passou a vida”, como disse seu biógrafo abbé Alfred Monnin.
“Como poderíamos perder a esperança de Sua misericórdia, se Seu maior prazer é nos perdoar?”, escreveu o Cura em suas aulas de catecismo. Por isso, o tesouro da misericórdia divina é inesgotável, e não pode passar pela cabeça de ninguém contar os dons da graça, como se fossem dívidas que cedo ou tarde pagaremos, ficando quites com nossas ações. Afinal, para Deus perdoar é o prazer maior. E isso o faz tornar-se mendicante do coração do homem. “Sua paciência nos espera”, assegura, completando que “não é o pecador que volta a Deus para lhe pedir perdão, mas é Deus que corre atrás do pecador e o faz voltar a Ele”.
O Padre Paulo Dalla Dea, sacerdote fidei donum no Santuário dedicado a Cura D’Ars, nos fala desta expressão da misericórdia na vida de São João Maria Vianney:
“O Cura d’Ars trabalhou muito para implantar a misericórdia na Igreja nos tempos em que ele vivia, porque o Cura d’Ars vivia em tempos de muito jansenismo, de muito rigorismo, de penitências extraordinariamente pesadas dadas às pessoas, porque ela tinha que pagar com rigor a sua ofensa a Deus. Era o Tribunal da Penitência. E o Cura D’Ars, um homem que já tinha sido bastante machucado, entrou nessa, tanto pelo contexto cultural e eclesial da sua época, como pelos ensinamentos de seu promotor vocacional, o padre Balley. O padre Balley era extremamente rigoroso consigo mesmo e com os outros. O Cura d’Ars já era um homem machucado, porque, quando jovem, tinha perdido o alistamento militar e foi considerado desertor. Como desertor, ele precisou ficar dois anos escondido, com nome falso, até que Napoleão desse um indulto para as pessoas. Quando ele recebeu o indulto, foi visitar a sua família, e seu pai o barrou na porta e disse: “Você aqui não entra, porque você é a causa de todos os males que caíram sobre esta casa, sobre esta família, a sua mãe morreu de tristeza por sua causa e o seu irmão está na guerra.” De fato o irmão de João Maria Vianney morreu na guerra, então João Maria Vianney se sentia culpado, especialmente por ter ‘matado a mãe’ como tinha dito o pai, por ter provocado a morte de tristeza da mãe, e por ser responsável de alguma maneira pelo irmão ter ido lutar na guerra. Ele foi um homem extremamente machucado, até que descobriu nas atualizações do clero, da Diocese de Belley, o Monsenhor Devie, que era o bispo da época, trouxe para todos os padres a Teologia Moral de Santo Alfonso de Ligório. E o ligorismo, a misericórdia da doutrina do fundador dos redentoristas, trouxe em primeiro lugar a capacidade dele experimentar a misericórdia e experimentando a misericórdia de Deus, agir com misericórdia em relação aos seus paroquianos. Ele se tornou um padre extremamente conhecido na França, por ser uma pessoa que agia com misericórdia, mas que demandava, pedia, pela conversão das pessoas.”
A Confissão
“Se soubéssemos bem o que é um padre na terra, morreríamos: não de medo, mas de amor”. A vida de São João Maria Vianney pode ser resumida neste pensamento. Aos 17 anos, sentiu-se chamado ao sacerdócio. “Se eu fosse padre, queria conquistar muitas almas“, disse ele. Mas, não era fácil atingir esta meta, por causa dos seus poucos conhecimentos culturais. Mas, graças à ajuda de sábios sacerdotes, entre os quais o Abbé Balley, pároco de Écully, recebeu a ordenação sacerdotal em 13 de agosto de 1815, aos 29 anos.
Para ele, a Confissão é a dádiva inimaginável que Deus dá de surpresa para salvar seus filhos em perigo: “Meus jovens, é impossível compreender a bondade que Deus teve ao instituir esse grande Sacramento. Se tivéssemos de pedir uma graça a Nosso Senhor, jamais imaginaríamos pedir-lhe essa. Mas ele previu nossa fragilidade e nossa inconstância no bem, e seu amor o levou a fazer o que nós nunca teríamos ousado pedir-lhe”.
E uma boa confissão, recomendava, deve ser humilde, simples, prudente e total, evitando “todas acusações inúteis, todos os escrúpulos que nos fazem dizer cem vezes a mesma coisa, que levam o confessor a perder tempo e irritam as pessoas que estão na fila esperando para se confessar”. É preciso “confessar aquilo que é incerto como incerto, e aquilo que é certo como certo”.
O essencial é “evitar qualquer simulação: que o coração de vocês esteja em seus lábios. Vocês até podem enganar seu confessor, mas lembrem-se de que jamais enganarão ao bom Deus, que vê e conhece seus pecados melhor que vocês mesmos”.
“Vou-lhes dizer a minha receita”, costumava dizer. “Dou uma pequena penitência a eles, e faço o resto em seu lugar”. O que conta, é ter ao menos um pouco de contrição por nossos pecados. Com uma contrição perfeita, a pessoa é perdoada “antes ainda de receber a absolvição”. Portanto, “é preciso dedicar mais tempo a pedir a contrição que ao exame de consciência”.
Fonte: Vatican News