A nossa fé em Jesus Cristo Ressuscitado ressuscita-nos para “uma esperança viva, para uma herança incorruptível” que nos está reservada nos Céus (cf. 1Pe 1,3-4).

 

Nós acreditamos que “os que morrem na graça e amizade de Deus, perfeitamente purificados, vivem para sempre com Cristo” (Catecismo da Igreja Católica – CIC – 1023). O Céu, que é a plena comunhão de vida e de amor com o Pai, o Filho e o Espírito Santo, com a Virgem Maria, com todos os santos e anjos, “é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e definitiva” (CIC, 1024).

Acreditamos também que “os que morrem na graça e amizade de Deus, mas não de todo purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do Céu” (CIC, 1030).

“Todo pecado, mesmo venial, traz consigo um apego desordenado às criaturas, o qual tem de ser purificado, quer nesta vida quer depois da morte” (CIC, 1472). “A Igreja chama purgatório a esta purificação final dos eleitos” (CIC, 1031).

O que é o purgatório?

É “um atraso”, imposto pelos nossos pecados, “um atraso antes do braço de Deus, uma queimadura de amor que faz sofrer terrivelmente, uma nostalgia de amor. É precisamente uma nostalgia de amor que nos lava do que ainda é impuro em nós. O purgatório é um lugar do desejo, do desejo louco de Deus, do Deus que já conhecemos, porque já o vimos, mas ao qual não estamos ainda unidos”*.

A doutrina da fé sobre o purgatório foi definida pela Igreja nos Concílios de Florença, em 439, e de Trento, em 1563. O Concílio Vaticano II, ao falar sobre a comunhão dos santos – dos que peregrinam nesta terra, dos que são purificados depois desta vida e dos que são glorificados – afirma:

“Reconhecendo claramente esta comunicação de todo o Corpo Místico de Cristo, a Igreja dos que ainda peregrinam, cultivou com muita piedade, desde os primeiros tempos do Cristianismo, a memória dos defuntos e, ‘porque é coisa santa e salutar rezar pelos mortos, para que sejam absolvidos de seus pecados’ (2 Mc 12,16), por eles ofereceu também sufrágios” (Lumen Gentium, 50).

Os sufrágios que a Igreja oferece em favor dos falecidos, para que sejam purificados dos seus pecados e cheguem à visão beatífica, são a esmola, as indulgências, a oração, as obras de penitência e, sobretudo, o sacrifício eucarístico.

Nesta comunhão dos santos que existe entre os que se purificam depois desta vida e os que ainda peregrinam nesta terra há uma recíproca permuta de bens espirituais. “A nossa oração por eles, diz o Catecismo da Igreja Católica, pode não só ajudá-los, mas também tornar mais eficaz a sua oração em nosso favor” (CIC, 958).

No calendário litúrgico da Igreja, há uma data em que especialmente dedicamos a santa Missa em favor dos falecidos – dia 2 de novembro – seguido de uma oitava de orações.

A Igreja reza diariamente pelos falecidos

A oração pelos falecidos faz parte de uma das preces da oração Eucarística; na Liturgia das Horas, a última prece de vésperas é sempre pelos falecidos; o Angelus termina, habitualmente, com uma oração pelos falecidos; na novena à Divina Misericórdia, segundo as revelações de Jesus à Santa Faustina Kowalska, o oitavo dia é dedicado às almas do purgatório.

Eis as palavras de Jesus:

Hoje, traze-Me as almas que se encontram na prisão do purgatório e mergulha-as no abismo da Minha misericórdia. Que as torrentes do Meu Sangue refresquem o seu ardor. Todas estas almas são muito amadas por Mim. Elas pagam as dívidas à Minha justiça. Está em teu alcance trazer-lhes alívio. Tira do tesouro da Minha Igreja todas as indulgências e oferece-as por elas. Oh! se conhecesses o seu tormento, incessantemente oferecerias por elas a esmola do espírito e pagarias as suas dívidas à Minha justiça” (Diário, 1226).

Nestas palavras, o purgatório é apresentado como “prisão” e “lugar de tormento”. Todas essas almas são muito queridas por Jesus. Estas palavras são um convite a oferecermos por elas a “esmola do espírito”, particularmente as indulgências.

 

Este artigo é parte do artigo Orar pelos vivos e falecidos,
publicado no livro Obras de Misericórdia – IV e V
Semanas de Espiritualidade sobre a misericórdia de Deus. Fátima-Portugal, 2003.