15 de fevereiro: Memória litúrgica do Padre Miguel Sopoćko


Conheça mais sobre a vida e a missão do Pe. Miguel Sopoćko pela Misericórdia


Acredito que uma grande parte dos devotos da Divina Misericórdia já conhecem este nome: Padre Miguel Sopoćko. E até mesmo sabem que foi o confessor e o diretor espiritual de Santa Faustina. Foi esta a ajuda visível na terra, quem a auxiliou e a quem ela pode confiar os pedidos de Jesus, que sozinha não seria capaz de realizar.

Vamos conhecer um pouco mais este sacerdote do qual no dia 15 de fevereiro celebramos a memória litúrgica. Podemos perguntar: por que justamente ele e não outro foi escolhido?

O que o fez responder a este apelo de ajudar uma irmã que há pouco havia conhecido e que lhe dissera que já o conhecia? Será que foi o conhecimento teológico e a prática de confessor o que o ajudou? Com certeza ele possuía muita prudência e sabedoria.

Padre Miguel escreve em seu diário pessoal: ”Eu conheci a Irmã Faustina no verão (julho ou agosto) de 1933, como minha penitente na Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Misericórdia em Vilna, Lituânia, na qual eu era então confessor comum. Ela chamou a minha atenção pela extraordinária delicadeza de consciência e pela íntima união com Deus. Já no início ela me declarou que me conhecia havia muito tempo de alguma visão, que eu devia ser o seu diretor de consciência e que devia concretizar certos planos divinos que deviam ser por ela apresentados. Eu menosprezei esse seu relato e a submeti a certa prova, a qual fez com que, com a autorização da Superiora, Ir. Faustina começasse a procurar outro confessor. Algum tempo depois voltou para falar comigo e declarou que suportaria tudo, mas que de mim já não se afastaria. Não posso, aqui, repetir todos os detalhes da nossa conversa, que em parte encerra-se em seu Diário, escrito por ela por minha recomendação, visto que lhe proibi depois falar das suas vivências na confissão.”

Ele soube ser prudente, jamais agiu por impulso, sendo paciente e, esperando o tempo de Deus, mesmo que isso o custasse muitos sofrimentos devido aos julgamentos, contrariedades e abandono dos mais próximos. Mas aprendeu a fidelidade à Igreja sem nunca deixar de amá-la e obedecê-la.

Padre Miguel soube reconhecer que já havia pensado muito sobre esta verdade da Misericórdia Divina, mas nunca a aprofundou. Foi preciso uma irmã, a irmã Faustina por muitos, vista apenas como uma irmã do segundo coro, ou seja, menos instruída, mas foi justamente ela a alma capaz de acolher esta mensagem tão grande. 

“Existem verdades da santa fé que na realidade a gente conhece e que recorda, mas que não compreende bem nem as vive. Assim aconteceu comigo quanto à verdade da Misericórdia Divina. Tantas vezes pensei a respeito dessa verdade nas meditações, especialmente nos retiros, tantas vezes dela falei nos sermões e a repeti nas orações litúrgicas, mas não penetrei o seu conteúdo e o seu significado para a vida espiritual; de maneira especial eu não compreendia, e num primeiro momento não podia concordar que a Misericórdia Divina seja o supremo atributo do Criador, Redentor e Santificador. Foi preciso que surgisse uma alma simples e piedosa, estreitamente unida com Deus, a qual – como acredito – por inspiração divina me falou sobre isso e me estimulou a estudos, pesquisas e reflexões a esse respeito. Essa alma foi a (…) que aos poucos conseguiu fazer com que eu considerasse a questão do culto da Misericórdia Divina, e de maneira especial a instituição da Festa da Misericórdia no primeiro domingo depois da Páscoa, como um dos principais objetivos da minha vida.”¹

Na medida em que conhecia a Divina Misericórdia, o Padre Miguel se aprofundava não apenas no conhecimento teológico e nos benefícios que este culto trazia, mas fez o processo de encontro pessoal com este mistério, tão antigo que fora esquecido, mas que precisava ser renovado.

Publicado pela primeira vez em 1937 livro com orações de Santa Faustina

Sua missão foi fundamental e seu zelo sem medidas. Buscava a aprovação do culto ao ver que frutos trazia para as almas, e de qual felicidade eram inundadas ao se encontrarem com as primeiras imagens de Jesus Misericordioso, que ele mesmo imprimiu e que se difundiram rapidamente. Muitas vezes se deparou com posições negativas referentes a esta ideia, tendo que buscar nos documentos da Igreja uma forma de expor o assunto sem concentrá-lo nas revelações de Santa Faustina, que ainda não haviam sido aprovadas pela Igreja.

“Comecei a buscar junto aos Padres da Igreja a confirmação de que ela é o maior atributo de Deus, como dizia Ir. Faustina, porque nas obras dos teólogos mais recentes nada havia encontrado a esse respeito. Com grande alegria encontrei expressões semelhantes em São Fulgêncio e em Santo Ildefonso, e mais ainda em São Tomás e Santo Agostinho, o qual – explanando os salmos – fazia amplos comentários sobre a Misericórdia Divina, chamando-a de maior atributo divino. Então eu já não tinha dúvidas a respeito da seriedade das revelações de Irmã Faustina no que dizia respeito ao seu caráter sobrenatural e de vez em quando comecei a publicar artigos a respeito da Misericórdia Divina em publicações teológicas, fundamentando de forma racional e litúrgica a necessidade de uma Festa da Divina Misericórdia no primeiro domingo depois da Páscoa.”²

Sua missão na realização desta obra, só foi possível porque ele se confiou à Misericórdia.

Pintura da Imagem

“Finalmente, levado mais pela curiosidade de que tipo de imagem seria essa do que pela fé na veracidade das visões de Irmã Faustina, decidi dar início à pintura dessa imagem. Conversei com o artista e pintor Eugênio Kazimirowski, que residia juntamente comigo na mesma casa, o qual a troco de certa importância prontificou-se a realizar a pintura, e ainda com a Irmã Superiora, a qual permitiu que Irmã Faustina duas vezes por semana fosse ter com o pintor a fim de mostrar como devia ser essa imagem.


Esse trabalho durou alguns meses, e finalmente, em junho ou julho de 1934, a imagem estava pronta. Irmã Faustina queixava-se de que a imagem não estava tão bonita como ela a via, mas Jesus Cristo a tranquilizou e disse que naquela forma a imagem seria suficiente. E acrescentou: ‘Estou fornecendo aos homens um vaso com que devem vir buscar as graças junto a Mim. Esse vaso é esta imagem com a legenda: Jesus, confio em Vós’”.³

Publicação da Novena e Terço da Misericórdia

“Em junho de 1936 publiquei em Vilna a primeira brochura, “A Misericórdia Divina“, com a imagem de Cristo Misericordiosíssimo na capa. Enviei essa primeira publicação, sobretudo aos Excelentíssimos Bispos reunidos na conferência do Episcopado em Czestochowa, mas de nenhum deles recebi uma resposta. No ano seguinte, em 1937, publiquei em Poznan outra brochura, intitulada “A Misericórdia Divina na liturgia“, cuja resenha, em geral muito favorável, encontrei em diversas publicações teológicas. Publiquei também diversos artigos nos jornais de Vilna, sem jamais revelar que a Ir. Faustina era a “causa movens”.


Em agosto de 1937 fiz uma vista a Irmã Faustina em Lagiewniki e encontrei em seu Diário a Novena da Misericórdia Divina, da qual gostei muito. Quando lhe perguntei onde a havia conseguido, ela me respondeu que essa oração lhe havia sido ditada pelo próprio Jesus Cristo. Disse ainda que antes disso Jesus Cristo lhe havia ensinado o Terço da Misericórdia e outras orações, que decidi publicar. Com base em algumas expressões contidas nessas orações, redigi uma ladainha da Misericórdia Divina, que juntamente com o terço e a novena entreguei ao Sr. Cebulski (Cracóvia, Rua Szewska, 22) com o objetivo de obter o “imprimatur” na Cúria de Cracóvia e de publicar essas orações com a imagem da Divina Misericórdia na capa.


A Cúria de Cravóvia concedeu o “imprimatur” sob o n. 671, e em outubro aquela novena, com o terço e a ladainha, estava disponível nas estantes das livrarias.

Em 1939 eu mandei trazer certa quantidade desses santinhos e novenas a Vilna, e após a eclosão da guerra e a invasão dos exércitos da URSS (19.09.1939) pedi a Sua Excelência o Arcebispo Metropolitano de Vilna a autorização para a sua divulgação, com a informação sobre a sua origem e a da imagem representada nesses terços, para o que obtive autorização oral. Então comecei a difundir o culto privado dessa imagem (para o que obtive autorização oral), bem como das orações compostas pela Irmã Faustina e aprovadas em Cracóvia.


Quando se esgotou a edição de Cracóvia, eu me vi forçado a multiplicar essas orações  em cópias feitas à máquina, e quando não podia mais dar conta, em razão da grande procura, pedi à Cúria Metropolitana de Vilna a autorização para uma reimpressão, com o acréscimo, na primeira página, de esclarecimentos sobre o conteúdo da imagem. Obtive essa autorização com a assinatura do censor monsenhor Leon Zebrowski, do dia 06.02.1940, bem como de S. Exa. o Bispo Auxiliar Casimiro Michalkiewicz e do notário da Cúria, Pe. J. Ostrewko, do dia 07.02.1940, sob o n. 35. Enfatizo que eu não sabia se o “imprimatur” seria assinado e por quem, e que a esse respeito não havia falado com S. Exa. o Bispo Auxiliar, que algumas semanas depois faleceu.


Na qualidade de censor, o monsenhor pe. Zebrowski introduziu algumas correções estilísticas no texto da edição de Cracóvia, mas a maioria dos fiéis preferiu deixar esse texto sem mudanças. Por isso, com a aprovação do censor, eu me dirigi à Cúria novamente (já após a morte de S. Exa. o Bispo Auxiliar) pedindo a aprovação dessas orações sem as correções. O padre notário J. Ostrewko levou o requerimento ao Metropolita, que através desse notário disse que eu fizesse uso da aprovação assinada pelo falecido Bispo Auxiliar, o que acabei fazendo”.4

Obediente e confiante

Sem se cansar entregou sua vida para que esta mensagem da bondade de Deus chegasse a todos os que a ela se abrissem, mesmo quando a Igreja decretou a proibição do Culto, o que ele primeiro cumpriu sendo obediente e suportando com paciência.

O Padre Miguel lutou até o fim pela aprovação do Culto da Divina Misericórdia, chegando a falecer ainda enquanto o decreto estava vigente, mas esperando nas palavras Daquele que lhe havia confiado esta missão.

“Confiemos mesmo quando nos parece que Deus nos abandonou, quando nos nega os Seus consolos, quando não nos ouve, quando nos oprime com uma pesada cruz. Então é preciso confiar em Deus mais ainda, porque esse é um tempo de provação, um tempo de experiência pelo qual toda alma deve passar.”5


Nota:

1, 2.  Diário pessoal do Padre Miguel Sopoćko

3, 4. Minhas recordações sobre a falecida Irmã Faustina. Edição do texto − Urszula Grzegorczyk. Consultoria − Irmã Maria Kalinowska, Congregação das Irmãs de Jesus Misericordioso.

5. Diário pessoal do Padre Miguel Sopoćko

Revista Divina Misericórdia, ed. 64 – por Irmãs de Jesus Misericordioso