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Foi uma viagem absolutamente positiva, com uma mensagem de grande esperança para todo o povo latino-americano: este é o primeiro balanço traçado pelo Padre Federico Lombardi, Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé sobre a missão do Papa Francisco no Equador, Bolívia e Paraguai:

Depois da visita ao Bañado Norte, zona muito pobre e pantanosa da cidade de Asunción, Paraguai,  o Papa Francisco dirigiu-se, no domingo, 12/07,  ao Campo Grande de Ñu Guazú (santuário onde S. João Paulo II canonizou S. Roque Gonzalez de Santa Cruz e Companheiros, durante a sua Viagem Apostólica em 1988), onde presidiu à celebração eucarística. Na sua homilia o Papa começou por citar as palavras do salmo 84 “O Senhor nos dará a chuva e a nossa terra dará o seu fruto” para dizer que a confiança nasce da fé, uma comunhão que sempre dá frutos, sempre dá a vida, uma confiança que se torna testemunho nos rostos de muitos que nos encorajam a seguir Jesus.

E, comentando o Evangelho do XV domingo do Tempo Comum, Francisco nos diz que os discípulos são aqueles que aprendem a viver na confiança da amizade, pois o Evangelho nos fala deste discipulado, nos apresenta a cédula de identidade do cristão, a sua carta de apresentação, a sua credencial:

“Jesus chama os seus discípulos e envia-os, dando-lhes regras claras e precisas. Desafia-os a um conjunto de atitudes, comportamentos que devem ter. Sucede, e não raras vezes, que nos poderão parecer atitudes exageradas ou absurdas … mas Jesus é muito preciso, muito claro. Não lhes diz: fazei de conta, ou fazei o que puderdes. Recordemo-las juntos: «Não leveis nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem alforje, nem dinheiro (…), permanecei na casa onde vos derem alojamento»”

Mas há uma palavra muitas vezes esquecida, prossegue o Papa, mas central na espiritualidade cristã, na experiência do discipulado, é a palavra hospitalidade. O cristão é aquele que aprendeu a hospedar, acolher. Jesus não os envia como poderosos, como proprietários, chefes, carregados de leis, normas. Ao contrário, mostra-lhes que o caminho do cristão é transformar o coração:

“Aprender a viver de forma diferente, com outra lei, sob outra norma. É passar da lógica do egoísmo, do fechamento, da luta, da divisão, da superioridade para a lógica da vida, da gratuidade, do amor. Passar da lógica do dominar, esmagar, manipular para a lógica do acolher, receber, cuidar: são duas as lógicas que estão em jogo, duas maneiras de enfrentar a vida, a missão”.

E muitas vezes, continuou o Papa, concebemos a missão com base em projectos ou programas, idealizamos a evangelização, pondo de pé milhares de estratégias, tácticas, manobras, truques, procurando que as pessoas se convertam com base nos nossos argumentos, quando na verdade o Senhor nos diz hoje muito claramente que não se convence com os argumentos, as estratégias e as tácticas, mas aprendendo a alojar.

E O Papa reiterou que a Igreja é uma mãe de coração aberto que sabe acolher, receber, especialmente a quem precisa de maior cuidado, que está em maior dificuldade, a Igreja é a casa da hospitalidade:

“Praticar hospitalidade com o faminto, o sedento, o forasteiro, o nu, o enfermo, o encarcerado, com o leproso, o paralítico; hospitalidade com aquele que não pensa como nós, com a pessoa que não têm fé ou a perdeu; hospitalidade com o perseguido, o desempregado; hospitalidade com as culturas diferentes, de que esta terra é tão rica; hospitalidade com o pecador, porque cada um de nós também o é”.

Mas existe um mal, adverte Francisco, que pouco a pouco constrói o seu ninho no nosso coração e “come” a nossa vitalidade: é a solidão,  a solidão que pode ter muitas causas, muitos motivos, e  nos separa dos outros, de Deus, da comunidade, vai nos encerrando em nós mesmos. Mas Jesus abre-nos a uma lógica nova:

“Jesus abre-nos a uma lógica nova; a um horizonte cheio de vida, beleza, verdade, plenitude. Deus nunca fecha os horizontes, Deus nunca é passivo face à vida e ao sofrimento dos seus filhos. Deus nunca Se deixa vencer em generosidade. Foi para isto que nos enviou seu Filho, no-Lo oferece, entrega, compartilha: para aprendermos o caminho da fraternidade, do dom”.

E para Francisco trata-se de um novo horizonte, uma nova Palavra para tantas situações de exclusão, desagregação, confinamento, isolamento, é uma Palavra que quebra o silêncio da solidão.

E assim, quando estivermos cansados ou se tornar pesada a evangelização, diz o Papa, é bom recordar que a vida proposta por Jesus corresponde às necessidades mais profundas das pessoas, porque todos fomos criados para a amizade com Jesus e o amor fraterno. E adverte:

“Uma coisa é certa! Não podemos obrigar ninguém a receber-nos, a hospedar-nos; isto é certo e faz parte da nossa pobreza e da nossa liberdade. Mas é certo também que ninguém nos pode obrigar a não sermos acolhedores, hospedeiros da vida do nosso Povo. Ninguém nos pode pedir que não recebamos e abracemos a vida dos nossos irmãos, especialmente dos que perderam a esperança e o gosto pela vida. Como é belo imaginar as nossas paróquias, comunidades, capelas, lugares onde estão os cristãos como verdadeiros centros de encontro tanto entre nós como com Deus”.

E o Papa terminou apresentando Maria como modelo da Igreja: alojar como Maria – disse – que não dominou nem Se apoderou da Palavra de Deus; pelo contrário, hospedou-A, gerou-A e entregou-A; alojar como a terra que não domina a semente, mas que a recebe, nutre e faz germinar, alojar a vida de Deus nos nossos irmãos com a confiança, com a certeza de que «o Senhor nos dará chuva e dará fruto a nossa terra».

fonte: Radio Vaticano