O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a família, nesta quarta-feira, 19. Após falar sobre a festa na semana passada, o Pontífice abordou hoje o trabalho. Aos fiéis presentes na Sala Paulo VI, o Santo Padre destacou que “o trabalho é sagrado” e “dá dignidade a uma família”. Por isso, é preciso “rezar para que não falte o trabalho em uma família”.
Francisco recordo que o trabalho “se aprende em família. A família educa ao trabalho com o exemplo dos pais: o pai e a mãe que trabalham pelo bem da família e da sociedade”.
Neste sentido, citou o exemplo da Sagrada Família de Nazaré, que “aparece como uma família de trabalhadores, e o próprio Jesus é chamado de ‘filho do carpinteiro’, ou até mesmo de ‘o carpinteiro’”.
Recordando as palavras de São Paulo, o Santo Padre alertou sobre o falso espiritualismo, aqueles que “vivem às custas dos irmãos e irmãs ‘sem fazer nada’”. Conforme explicou, na concepção cristã, não existe contraste entre o “compromisso do trabalho e da vida do espírito”.
“É importante entender bem isso! Oração e trabalho podem e devem estar juntos em harmonia, como ensina São Bento. A falta de trabalho danifica também o espírito, como a falta de oração danifica também a atividade prática”, ponderou.
O trabalho, sublinhou o Papa, “é próprio da pessoa humana” e “exprime a sua dignidade de ser criada à imagem de Deus”. “Por isso, se diz que o trabalho é sagrado. E por isso a gestão do trabalho é uma grande responsabilidade humana e social, que não pode ser deixada nas mãos de poucos ou descarregada sobre um mercado divinizado. Causar uma perda de postos de trabalho significa causar um grave dano social”.
Francisco declarou, então, que se entristece quando vê “que há gente sem trabalho, que não encontra trabalho e não tem a dignidade de levar o pão para casa”. Por outro lado, disse alegrar-se ao ver “que os governantes fazem tantos esforços para encontrar postos de trabalho e para buscar fazer com que todos tenham um trabalho”.
Ao citar a passagem do Gênesis na qual Deus confia ao homem o cuidado e o trabalho na “casa-jardim”, o Papa retomou algumas ideias da Encíclica Laudato Sì. “A beleza da terra e a dignidade do trabalho são feitas para estarem juntas”.
Então, advertiu o Papa, “quando o trabalho se distancia da aliança de Deus com o homem e a mulher, quando se separa das suas qualidades espirituais, quando é refém da lógica só do lucro e despreza os afetos da vida, a degradação da alma contamina tudo: também o ar, a água, a erva, o alimento… A vida civil se corrompe e o habitat se destrói. As consequências atingem sobretudo os mais pobres e as famílias mais pobres”.
Francisco alertou ainda que “a organização moderna do trabalho mostra, às vezes, uma perigosa tendência a considerar a família como um obstáculo, um peso, uma passividade para a produtividade do trabalho. Mas nos perguntemos: qual produtividade? A considerada ‘cidade inteligente’ é sem dúvida rica de serviços e de organização; porém, por exemplo, é muitas vezes hostil às crianças e aos idosos”.
Diante desse contexto, o Pontífice afirmou que “a família é um grande teste”. E observou: “Quando a organização do trabalho a tem como refém, ou até mesmo obstrui o seu caminho, então estamos certos de que a sociedade humana começou a trabalhar contra si mesma!”.
Neste cenário, Francisco declarou que as famílias cristãs têm uma grande missão, trazer os fundamentos da criação de Deus: “a identidade e a ligação do homem e da mulher, a geração dos filhos, o trabalho que torna doméstica a terra e habitável o mundo”.
E concluiu: “A perda destes fundamentos é algo muito sério, e na casa-comum já existem muitas fissuras! A tarefa não é fácil. É preciso fé e perspicácia”.
fonte: ACI