Com diálogo e apoio material, entidade pró-vida de Curitiba ajuda mães que pensaram em abortar a mudar de ideia e a acolher a maternidade
A conversa pode ocorrer numa praça, num parque, dentro de um carro ou numa clínica. O objetivo é sempre o mesmo: salvar um inocente. E não se trata de qualquer inocente, mas sim do mais indefeso e frágil que se possa supor: bebês em gestação. Foi assim, conversando com gestantes, que a Casa Pró-Vida Mãe Imaculada conseguiu evitar, desde 2012, a morte de 32 bebês que quase foram eliminados em abortos.
Inspirada em organizações do exterior, a Casa Pró-Vida foi fundada pelo padre Sílvio Rodrigues Roberto, da Congregação dos Padres Marianos. Ele passou parte de seu tempo como seminarista nos Estados Unidos onde conheceu a organização e a força do movimento pró-vida local. Numa nação que luta contra a prática legalizada há quatro décadas, conscientizar gestantes sobre o erro moral que cometem ao abortar é uma estratégia comum para reduzir o número de vidas perdidas.
“Lembro-me de ter participado de um momento de oração na frente de uma clínica de abortos e naquele dia aconteceu um milagre”, conta o sacerdote. “Uma mulher passou por nós, entrou na clínica e saiu uns minutos depois. Ela disse que estava indo fazer um aborto, mas assim que nos viu percebeu que era errado e não podia ir adiante com aquilo.”
Estrutura
Essa e outras situações alimentaram no padre a vontade de fazer algo parecido no Brasil. Antes de vir para Curitiba o sacerdote chegou a participar de eventos e manifestações contra o aborto no Rio de Janeiro, mas foi na capital paranaense que o projeto se concretizou. À frente do Apostolado da Divina Misericórdia, ele comprou uma residência entre os bairros Sítio Cercado e Umbará, e transformou o local na sede do projeto.
O local é espaçoso, abriga entre outros cômodos uma capela e um salão para eventos, mas a parte que chama mais atenção é a parede de uma pequena sala, bem no meio da residência. Lá estão as fotos dos bebês salvos pelos esforços da instituição. Todas as imagens foram enviadas pelas próprias mães que fazem questão de dividir com a Casa Pró-Vida a alegria de terem dado à luz.
“Nossos sentimentos ficam divididos quando olhamos para essa parede. Ao mesmo tempo que nos alegramos por termos ajudado a salvar essas crianças, no fundo gostaríamos que isso nem fosse preciso”, diz o padre, emocionado.
Falta de dinheiro é causa frequente para mães cogitarem aborto
No Brasil não há clínicas de abortos autorizadas a funcionar, mas o crime ocorre nos mais variados ambientes e circunstâncias, clandestinamente. O modo como a instituição fica sabendo de casos também é bastante diversificado. Notícias sobre mulheres que passam dificuldade na gestação chegam por uma numerosa rede de contatos, mas às vezes o pedido por socorro é mais direto. “Algumas vêm até nós, dizem que o bebê está chegando, mas não sabem o que fazer. Aí nós as acolhemos, damos toda a assistência com exames e acompanhamento profissional e, eventualmente, até ajudamos a pagar o aluguel de algum lugar para elas ficarem”, conta Jane Maria de Andrade, coordenadora da Casa Pró-Vida e responsável pela maior parte das conversas que salvam bebês.
Liderados por ela a Casa Pró-Vida conta uma médica, uma enfermeira, duas psicólogas, dois advogados e dois assistentes sociais, todos atuando voluntariamente junto a um batalhão que reúne 48 colaboradores. O time inteiro se alegra quando uma mãe que já cogitou abortar muda de ideia e, com todo o apoio da Casa Pró-Vida, abraça a maternidade.
Apesar do perfil confessional da instituição, Jane afirma que a fé de cada mulher atendida não interfere na acolhida. “Uma vez atendi uma gestante que disse: ‘não acredito em Deus, estava mesmo disposta a abortar, mas o fato de você estar aqui pode ser um sinal de que não devo fazer isso. Então, vou ter esse bebê’.” Um dia antes de conceder a entrevista, a Casa recebeu a notícia de que a moça estava agora com quatro meses de gestação e que a criança já tinha nome. O pequeno Arthur vai vir ao mundo.
Motivos
A falta de condição financeira é motivo frequentemente invocado pelas pessoas que já cogitaram o aborto. A Casa Pró-Vida já atendeu pelo menos três situações em que não apenas a mulher, mas o casal encontrava-se em pânico por conta das despesas médicas que inevitavelmente viriam com a gravidez. Numa das situações a mãe engravidou apenas 40 dias após ter dado à luz, e a família ainda estava pagando as parcelas referentes ao atendimento médico no parto. “Diante do desespero, acabam ficando cegos para a vida que está vindo e só pensam em tirá-la de lá”, conta Jane. Felizmente, esses são os casos em que uma honesta demonstração de solidariedade e formas concretas de apoio são suficientes para dissuadi-los da ideia de eliminar a criança.
Mas nem sempre diálogo e apoio são suficientes para evitar o pior. “Desde que começamos soubemos que sete mães foram adiante e fizeram um aborto. Algumas delas com plenas condições financeiras e sociais de ter a criança. Todos da Casa Pró-Vida choramos juntos em cada um desses casos.”
Entidade planeja expansão para além do Paraná
Com pouco menos de três anos de vida, a Casa Pró-Vida Mãe Imaculada tem muito a crescer, diz o padre Silvio Roberto, e ir além das fronteiras do estado é uma das metas. “Há pessoas entrando em contato conosco, dizendo que gostariam de contar com lugares assim em sua cidade. Estamos estudando como viabilizar isso.”
Uma conquista recente do grupo foi o programa Sim à Vida, na TV Evangelizar. Apresentado pelo próprio sacerdote, o programa de entrevistas leva ao público assuntos relacionados à defesa da vida, desde a concepção à morte natural, e contribui na divulgação do trabalho desempenhado pela Casa Pró-Vida.
Para sustentar toda essa estrutura o grupo depende principalmente de doações, mas investe também em frequentes eventos de formação nas áreas de bioética e biopolítica, todos abertos ao público geral com o pagamento de taxas de inscrição. Outras fontes de renda são bazares, encontros voltados a empresárias simpatizantes do trabalho e participação no Fundo Diocesano de Solidariedade, pertencente à Arquidiocese de Curitiba.
Testemunho
“Se não fosse por eles…”
Há dois anos, Luana (nome fictício), com 33 anos na época, não se imaginava com outro bebê nos braços. Ela era mãe de um menino de quatro anos, morava com a família, havia acabado de sair de um casamento e o pai da menina em gestação nem cogitava assumi-la. Deprimida e com medo de julgamentos, o aborto lhe pareceu uma saída.
A Casa Pró-Vida soube da história e foi atrás de Luana. Alguns encontros para conversas e claras demonstrações de solidariedade com seu drama foram suficientes. “Não sei o que houve comigo naqueles dias. Eu olho para trás e parece que não estava pensando direito”, diz Luana, hoje com uma graciosa menina de um ano e cinco meses no colo. “Se não fosse por eles, por terem se interessado pelo meu problema, eu teria feito uma grande besteira”, admite. Hoje Luana mora nos fundos da casa da mãe, “uma vó maravilhosa” que a ajuda na criação dos dois filhos, conforme conta a própria Luana. Até hoje mantém contato com a Casa Pró-Vida.
Quer ajudar? Os contatos da instituição são contato@casaprovidami.com.br, (41) 3156.0003,
https://www.facebook.com/www.casaprovidami.com.br
fonte: Sempre Família