13 de agosto: festa litúrgica da primeira santa nascida no Brasil

Em outubro de 2019 o Papa Francisco canonizou a primeira santa nascida no Brasil, Irmã Dulce. Depois da canonização, que ocorreu no dia 13, ela recebeu o nome de Santa Dulce dos Pobres. Por receber este nome podemos perceber como ela viveu intensamente o mandamento de Jesus na relação com o próximo.

Ainda em vida, era chamada de “Anjo Bom da Bahia”. Gastava seu tempo cuidando dos mais necessitados reservando pouco tempo para si ou quase nada. Aprendeu com o Mestre Jesus a doar-se por inteira e plenamente, descobrindo que há mais alegria em dar do que em receber. Assemelhou sua vida ao mistério da cruz, mistério que nos ensina a plenitude da doação onde Jesus não reservou nada para si, cumpriu em sua vida a vontade do Pai.

Santa Dulce, doando sua vida na missão aos mais necessitados, descobriu que quem recebia era ela. Recebia de Deus a força, a coragem e o amor para seguir seu caminho mostrando o caminho de Jesus. Creio que podemos chamá-la também de Santa Dulce da Misericórdia, porque colocou seu coração, sua fé, sua vida à disposição de Deus para sanar um pouco a miséria, a dor e o sofrimento de tantos que chegavam até ela.

Dedicou toda a sua vida em função dos mais pobres, levou um pouco mais de dignidade e humanidade a quem encontrava. Com isso, conseguiu, com a graça de Deus, atingir a essência do culto à misericórdia de Deus: confiança em Deus e um amor ativo para com o próximo. Não realizou um discurso de quem fica somente com a mão no microfone; teve uma mão cheia de esperança, segurou na mão de quem não tinha mais ninguém por si mesmo.

O seu exemplo de vida nos faz recordar o que Jesus Misericordioso disse a Santa Faustina: “Deves mostrar-te misericordiosa com os outros, sempre e em qualquer lugar. Tu não podes te omitir, desculpar-te ou justificar-te” (Diário, 742).

Neste sentido, Santa Dulce dos Pobres é um grande exemplo de santidade, exemplo de quem confiou em Deus plenamente e conseguiu com que o seu amor a Deus tivesse reflexo na vida das pessoas que vinham a seu encontro, porque amou a Deus sobre todas as coisas, porque fez Dele o sentido de sua existência.

Conseguiu durante toda sua vida colocar em prática as obras de misericórdia: “eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede, e me destes de beber; eu era forasteiro, e me recebestes em casa; estava nu, e me vestistes; doente, e cuidastes de mim; na prisão, e viestes até mim” (Mt 25,35-36).



Colocar em prática as obras de misericórdia

O ponto de partida para colocar essas obras de misericórdia em prática precede o amor ao próximo. É através da experiência de Deus que o coração humano se abre para o encontro com o outro. “Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento” (Mt 22,37).

Percebemos na vida dos santos, aqui especificamente Santa Dulce, que no encontro com Deus há o encontro com o próximo. Quanto mais se encontra com o próximo, mais se encontra com Deus.  É nesta ação, guiada pelo Espírito Santo, que se realizam as obras de misericórdia. É bom lembrar que o ponto de partida sempre é Deus:

“Quem ama e quer amar a Deus de todo o coração, percebe a exigência, antes mesmo do dever, de dedicar um tempo sempre mais prolongado para permanecer a sós com ELE. Seu caminho de busca está sempre mais marcado por momentos de intimidade com Ele. Momentos nos quais o seu tempo, sem pressa e sem dispersão, torna-se lugar da epifania do amor” (Amadeo Cencini, Amarás o Senhor teu Deus, pag.148. Paulinas, São Paulo, 1989).


Um testemunho

Quando olhamos para Santa Dulce dos Pobres percebemos claramente, na prática de sua vida, que o amor a Deus e ao próximo foi o que a levou à santidade. Assim ela se torna para nós, cristãos, um testemunho, exemplo de que aqueles que depositam em Deus sua confiança e não medem esforços no amor ao próximo, têm a garantia de que não perecerão nos caminhos do mundo. “Quem confia na Minha misericórdia não perecerá” (Diário, 723).

Confiando, acreditando e amando o Supremo Bem, Santa Dulce descobriu que é na prática do bem ao irmão necessitado que a relação com Deus se intensifica e se fortifica.

É fruto da coragem de alguém que escutando o Evangelho, fortalece sua fé em Deus e faz com que o amor ao próximo não seja somente um discurso caritativo, intelectual ou conceitual, mas de alguém que encarna em sua vida os ensinamentos do Mestre Jesus e não tem medo das consequências, faz com que sua vida se assemelhe a do Mestre.

Irmã Dulce mostrou com seu testemunho que nós, cristãos brasileiros, temos muito o que fazer. Essa terra, tão grande e abençoada com tantos recursos, tem potencial para, em meio às suas misérias e fragilidades, tornar-se um campo vasto da expressão da misericórdia entre irmãos de fé que seguindo a Jesus se tornam verdadeiros samaritanos na vida de tantos caídos às margens de nossa sociedade.


Por Padre Leandro Aparecido, MIC
Revista Divina Misericórdia, Edição 70