Padre Ednilson de Jesus, MIC, foi quem ministrou a segunda palestra do 21º Congresso Nacional da Divina Misericórdia. O Congresso acontece no Santuário da Divina Misericórdia, em Curitiba – PR, entre os dias 11 e 13 de novembro de 2022.

A segunda palestra teve como tema “A misericórdia de Deus e a graça divina” e corresponde aos capítulos 7 a 20 do livro “A misericórdia de Deus em Suas obras, vol. 3”, do bem-aventurado padre Miguel Sopocko.

Padre Ednilson é Reitor do Seminário de Filosofia e Teologia dos Padres Marianos em Curitiba – PR e vigário da Paróquia São Jorge. Acompanhe a síntese da sua palestra!

Segunda palestra: A graça da presença de Deus

O palestrante começou falando que “graça” não é energia, mas “presença de Deus em nossa vida”. “Não tem como falar da graça de Deus, se não experimentarmos essa graça Dele presente no meio de nós”, afirmou.  

“Que a presença real da Santíssima Trindade, de Nossa Senhora Mãe da Misericórdia e de todos os santos e santas do céu, os anjos e suas hierarquias possam nos levar a uma experiência profunda da graça da misericórdia de Deus”.

O palestrante convidou a todos a meditar as palavras do livro Hebreus 4,16, que diz:

“Aproximemo-nos, pois, confiadamente do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e achar a graça de um auxílio oportuno.”

“Estre trecho da Sagrada Escritura resume, de forma esplendida, aquilo que nós vamos aprofundar nesta palestra a partir do livro do padre Miguel”. E destacou que o Congresso não é apenas para adquirir conhecimento, mas é o momento de experimentar a graça e a misericórdia de Deus na nossa vida. Por isso a abertura de coração faz uma diferença muito grande.

Nesta segunda palestra do Congresso, Padre Edilson destacou que aquilo que Santa Faustina e o Padre Miguel escreveram existiu desde toda a eternidade em Deus, sempre misericordioso para conosco.

Em seguida, iniciou uma análise do trecho bíblico.

“Aproximemo-nos”

Imagem: Laurek Fotografia

Padre Ednilson destaca que a primeira palavra que aparece no trecho bíblico é o verbo “aproximar”. E esta “é a primeira atitude que devemos ter com relação à misericórdia de Deus”. “Aproximemo-nos significa, cheguemos mais perto”, destacou o padre.

E convidou: “desarmemo-nos”, porque “Deus não pode realizar nada na nossa vida enquanto estamos distantes, não fisicamente, mas espiritualmente”.

Logo, padre Ednilson explicou: “a proximidade exclui alguns sentimentos normais do ser humano, tais como o medo”.

Sendo assim, recordou que Jesus diz à Santa Faustina que aos maiores pecadores devem aproximar-se da misericórdia; que não devem ter medo de se aproximar da fonte inesgotável da misericórdia.

Outro sentimento que a proximidade de Deus exclui é a indignidade. “Nos sentimos indignos de nos aproximarmos do Senhor, mas a misericórdia Dele veio justamente para aqueles que precisam”. Portanto, devemos nos aproximar de Deus admitindo que precisamos da Sua misericórdia.  

“Imaginem Deus desejando dar misericórdia muito mais do que nós desejamos recebê-la” .

E recordou que a misericórdia Divina: “é grande, é infinita, é inesgotável”.

De que modo devemos nos aproximar?

Com confiança!

“Este é o modo como temos que nos apresentar diante do Trono de Deus”.

E mais uma vez destacou algumas palavras de Jesus a Santa Faustina:

“Quanto mais a alma confiar, tanto mais receberá […] Alegro-Me por pedirem muito, porque o Meu desejo é dar muito, muito mesmo. Fico triste, en­tretanto, quando as almas pedem pouco, quando estreitam os seus corações” (Diário, 1578)

Devemos nos aproximar do que? Do Trono da Graça!

“Em Jesus, o Pai se manifesta a nós de forma visível e palpável. Quando Filipe disse a Jesus ‘mostra-nos o Pai’, Jesus lhe respondeu  ‘quem me vê, vê o Pai’. Ou seja, tudo o que o Pai quis revelar a nós Ele mostrou no Seu Filho”.

Em Jesus Misericordioso temos os raios que simbolizam a vida, o batismo, o sangue, a eucaristia e nos convidam a nos entregarmos com confiança, a nos aproximarmos com confiança do Trono misericordioso de Deus. E de forma especial beber da fonte dessa graça.

E para que devemos nos aproximar do Trono da Graça?

Imagem: Laurek Fotografia

No texto bíblico encontramos 3 razões que justificam a necessidade de nos aproximarmos do Trono da Graça.

Para alcançar misericórdia, achar a graça e ser ajudado em tempo oportuno.

Para alcançar misericórdia – quanto necessitamos de misericórdia!

Para encontrar a graça –  “a graça é algo que é dado para quem não a merece”. Ou seja, não alcançamos a graça por mérito humano. “A graça de Deus é dada porque aquele que dá é misericordioso. Eu não recebo a graça porque sou bom, mas porque o autor da graça é 100% bom”.

Para sermos ajudados em tempo oportuno – existem dois tempos na nossa vida: o Chronos e o Kairós.  O Chronos é o tempo de hoje, é o agora, é o tempo cronológico. E dentro deste tempo cronológico, nós temos o Kairós, que é o tempo da graça de Deus. “Para Deus não existe ontem, não existe amanhã, existe somente o dia de hoje, o presente. Por isso o tempo oportuno, o dia da nossa salvação, a graça, está sendo derramada hoje.  Logo, “hoje é o derramamento da graça de Deus sobre nós dentro da realidade que estamos necessitando”. E sobre isso o palestrante ainda destaca que para todas as nossas necessidades e inquietações existe uma resposta da graça de Deus”.  Portanto, “este é o tempo oportuno. Não desperdicemos. Vamos usufruir dele o máximo que pudermos”.

Viver na graça de Deus

O palestrante recorda que muitas vezes nos queixamos porque rezamos tanto e não recebemos a graça. “Será?”, ele questiona.

E ressalta que precisamos compreender que na oração do Pai-Nosso rezamos “seja feita a Vossa vontade”. E que “viver na graça de Deus é estar na vontade de Deus”. Por isso destacou: “rezo não para Deus me dar o que eu quero, mas para Ele me dar o que eu preciso. Este é sentido da oração! Se eu fosse rezar para convencer Deus a fazer a minha vontade – quem seria Deus, Ele ou eu?”.

Contudo, destacou: “Quando eu rezo dizendo ‘Deus estou aqui na Tua presença pedindo forças para aceitar o que o Senhor tem para mim’ – isso é santidade”. “O santo é aquele que aceita a vontade de Deus na sua vida”. E recordou que Santa Faustina falou que não são os milagres, os dons, os carismas que caracterizam o santo, mas a união da sua vontade com a vontade de Deus.  

E ainda destacou uma frase de São Padre Pio: “Não queira o que Deus não quer, queira só o que Deus quer”.

“Quem quer o que Deus quer, vive feliz!”, destacou o sacerdote nesta segunda palestra. Já, quem não quer o que Deus quer “nunca estará feliz, nada estará bom para esta pessoa porque ela está na vontade dela e não na vontade do Senhor”.

A misericórdia e o pecado

Padre Ednilson explica que não tem como falar sobre misericórdia se não passarmos pela realidade humana do pecado.

Por isso, no livro do padre Miguel encontramos esta afirmação: “para falarmos sobre a graça e a misericórdia de Deus é importante imaginar a ausência destes dois milagres na nossa vida”.

E isso é importante para compreendermos o que significa libertar-se do pecado. “Eu não tenho o poder de libertar-me do pecado, só Deus pode libertar-me”, ressaltou o palestrante.

E o que é o pecado? Padre Miguel define no seu livro como sendo o amor que temos por nós mesmos, um amor luxurioso, que nos leva a desprezar Deus; é a completa escuridão da alma.

Além disso, o autor do livro no qual são baseadas as palestra do congresso ressalta que “quanto mais confiarmos em nós mesmo, menos o Senhor interfere em nossa vida. Ele permite que cheguemos à conclusão de que somos inaptos a conduzir a nossa própria vida”.

Portanto, ressalta o palestrante, o padre Miguel quer nos ensinar que sem a graça de Deus nós não somos nada.

Ele ainda explica que o pecado pode nos conduzir a duas situações: ou afundamos nesse amor luxurioso; ou nos abrimos à graça, à misericórdia, o que desperta em nós a virtude da confiança e a partir dela Deus nos resgata do pecado.

E reforçando a importância da confiança, explicou: “Quem tem confiança, tem todas as demais virtudes no seu coração. Quem não tem confiança não tem nenhuma outra virtude no coração”.

Por isso Jesus pediu à santa Faustina que na Sua imagem tenha a frase “Jesus, eu confio em Vós!”. E neste “eu” nós estamos junto com Jesus na Imagem.  

A confiança no Diário de Santa Faustina e na Imagem de Jesus

Para Santa Faustina, Jesus afirmou:

Tua grande confiança em Mim Me obriga a conceder­-te graças sem cessar” (Diário,718).

Portanto, diz o palestrante, “confiemos e assim experimentaremos o poder da graça de Deus”.

E então recordou que Jesus também falou à Santa Faustina:

Sê grata pela menor graça Minha, porque essa gratidão Me obriga a conceder-te novas graças… (Diário, 1701).

Logo, explicou ele, quanto mais somos gratos, mais Deus se obriga a nos conceder graças.

E essas são duas virtudes que nós podemos praticar todos os dias: confiança e gratidão!

O chamado à santidade

Livro do bem-aventurado Miguel Sopocko “A misericórdia de Deus em Suas obras, vol. 3”. Imagem: Laurek Fotografia

Em seu livro, padre Miguel nos recorda do nosso primeiro chamado: a santidade. “E o padre Miguel nos lembra que nós não podemos  esquecer essa vocação sobrenatural – a santidade –  e que estamos no mundo, mas não somos do mundo”, destaca nesta segunda palestra.

Sendo assim devemos estar atentos à maneira como passamos por essa vida. “Passamos fazendo o bem? Passamos confiando na misericórdia de Deus? Passamos deixando a presença Dele neste mundo?”.

Nesta segunda palestra, com as palavras do padre Miguel, o palestrante ressalta que é importante não nos acostumarmos com a graça divina, não esquecermos de que o Senhor age bondosamente conosco porque Ele é misericordioso.

“Isso por si só já deveria provocar em nós uma profunda gratidão. Deus me ama não porque eu mereço mas porque Ele é bom!”. E citou: “Deus não nos ama porque somos valiosos, mas somos valiosos porque Deus nos ama”.

Ainda destaca: “Uma alma que não se desapega de si, não pode ser usada por Deus, porque ela vai atrapalhar os planos de Deus”.

“Mais do que entender a graça precisamos experimentar a graça. Permitamo-nos ser tocados pela graça de Deus”.

O palestrante recorda as palavras de São Paulo que dizia: “Livra-me dos meus pecados, da minha fraqueza, do meu espinho na carne”. E que Deus dizia para ele: “Basta-te a minha graça”. “Porque é na fraqueza que se manifesta misericórdia de Deus”, explicou.

Depois, recordou outra frase de São Paulo: “Onde abundou o pecado, superabundou a graça de Deus”. Ou seja, “Deus consegue tirar proveito de tudo na vida de quem se abre a Ele”.

Como a graça de Deus atua no livre arbítrio

Todos somos chamados à vida eterna. E Deus coloca diante de nós o bem e o mal, a morte e a vida, e o que nós escolhermos Deus respeita. Isso é livre arbítrio.

Contudo, no seu livro padre Miguel ensina que para escolher o bem eu preciso da graça Divina. “É Deus, com a sua graça, que me ilumina a escolher o que é melhor para mim”, explica o palestrante.

Porém, a graça de Deus de forma alguma interfere na nossa decisão, mas nos ilumina para que façamos a melhor escolha.

Portanto, convida o palestrante: “vamos fazer bom uso do nosso livre arbítrio. Não somos livres quando escolhemos o pecado”.

São Paulo diz: “Tudo posso naquele que me fortalece”. E em outro momento “Tudo me é permitido mas nem tudo me convém”. Tudo isso diz respeito ao nosso livre arbítrio, relata padre Ednilson.

Finalizando a segunda palestra: a distribuição da graça de Deus

O palestrante relata que padre Miguel em seu livro afirma que algumas pessoas são escolhidas por Deus para graças extraordinárias.

E que ele quer nos ensinar a “sermos felizes com aquilo que Deus tem para nós. A não nos sentirmos invejados e não invejarmos a graça de Deus na vida de ninguém. Deus é tão criativo que Ele não repete a sua criatura. E ninguém de nós tem o que o outro tem”.

Logo, “a pior coisa para o ser humano é não acolher a graça que Deus deu para o outro, porque as vezes eu digo ‘como eu queria ter aquilo pra mim’ e diante disso Deus nos diz: ‘e aquilo que eu te dei não está bom?’”.

Deus dá a cada um aquilo que cada um tem a capacidade de receber, e entender isso nos ajuda a sermos felizes com aquilo que Deus nos deu.

“E esse é o exemplo da Mãe Santíssima, o modelo por excelência de pessoa agraciada”. Maria é plena da graça de Deus. O Anjo Gabriel disse a ela na anunciação: “Não temas, porque encontraste graça diante de Deus”. Por isso a chamamos “Mãe da Divina Graça, porque em ninguém a graça de Deus produziu tantos frutos quanto em Maria”.

Concluindo a segunda palestra, Padre Ednilson, citando uma passagem do livro de Tiago, diz que o Senhor não distribui graças aos orgulhosos, mas aos humildes.

E recorda que “Maria está no céu em corpo alma e nos diz que nós também conseguiremos chegar lá se vivermos com confiança, com humildade e com gratidão diante do plano de Deus para a nossa vida”.