Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia (Mt 5,7)

 

Inúmeras são as formas e ocasiões de receber e oferecer a misericórdia. Através desta reflexão, queremos convidá-lo a refletir sobre uma das sete obras de misericórdia espiritual: a oração pelos vivos e os mortos.

O ato de rezar, enquanto exercício espiritual, ou de interceder pelos outros, é uma prática que sempre esteve presente na vida dos cristãos, ao longo de toda a história da Igreja. Quem, algum dia, já não pediu oração aos outros? Ou, então, já não rezou por alguém?

Na Palavra de Deus, inúmeras são as passagens onde aparecem exemplos de pessoas que rezam por outras. Como exemplos de oração ou intercessão pelos vivos encontramos no Antigo Testamento a passagem que diz: “Moisés voltou junto do Senhor e disse: Oh, esse povo cometeu um grande pecado: […] ‘Rogo-vos que lhes perdoeis agora esse pecado!’” (Ex 32, 31-32). Ou, no Novo Testamento, outra passagem que diz: “Falava ele ainda, quando se apresentou um chefe da sinagoga. Prostrou-se diante dele e lhe disse: ‘Senhor, minha filha acaba de morrer. Mas vem impõe-lhe as mãos e ela viverá’” (Mt 9, 18).

Considerando as obras de misericórdia espiritual, mais especificamente a oração pelos vivos e os mortos, gostaria de trazer aqui exemplos que confirmam a eficácia da oração também pelos mortos ou almas do Purgatório. Cito o livro dos Macabeus, nas passagens: “Em seguida, organizou uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados. Belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição!” (2Mc 12, 43). Ou ainda: “era esse um bom e religioso pensamento. Eis por que ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas” (2Mc 12, 46).

Sendo católicos, somos conscientes da importância da oração na vida do ser humano. Contudo, nem sempre somos conscientes de que quando rezamos pelos outros o primeiro beneficiado com esse gesto somos nós mesmos.

Interceder pelos outros, portanto, nos leva a experimentar por primeiro a misericórdia de Deus, que age em nós e através de nós e nos capacita a praticar o que a Palavra nos ensina: “Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36). Ou seja, ao praticar essa obra de misericórdia espiritual, experimentamos em nós, concretamente, a ação da graça que nos transforma, liberta e fortalece para sermos misericordiosos para com os outros.

A nossa oração por aqueles que já não fazem mais parte do nosso convívio terreno – por aqueles que se purificam nas chamas do purgatório –, são fonte de auxilio na diminuição das penas temporais dos seus pecados e mais depressa são conduzidos à participação na plena comunhão com Deus.

A oração pelas almas do purgatório é parte do carisma da nossa Congregação dos Padres Marianos. A sua prática por nós Padres Marianos, assim como para aqueles que abraçam o nosso carisma, mantêm-nos fieis àquilo que Deus suscitou no coração do nosso Fundador, Santo Estanislau de Jesus e Maria Papczyński.

Que Maria, aquela que viveu a perfeita fidelidade ao projeto do Pai, nossa Mãe Imaculada e Mãe da Misericórdia, a mulher orante, seja sempre a nossa intercessora e nos ensine a orar.

Pe. Francisco Anchieta Cardoso de Muniz, MIC
Pároco do Santuário da Divina Misericórdia


Enterrar os mortos: obras de misericórdia nos escritos e na vida de Santo Estanislau Papczyński