Papa reza na mesquita azul de Estambul

Papa reza na mesquita azul de Estambul

Qual as possibilidades de encontro? De diálogo? E, novamente, a propagação do terrorismo. Quais são as medidas possíveis?

De tudo isso falamos com Youssef Sbai, vice presidente da Ucooi, a União das Comunidades Islâmicas na Itália.

O Papa Francisco proclamou um Jubileu da Misericórdia. Qual é a sua impressão a respeito disso?

“Eu ouvi e li as palavras do Papa. O conceito por ele proposto praticamente coincide com a misericórdia de Deus no Islã. Como Ucooi, este é um argumento que nos interessa, porque nos une a todos. O interesse decorre destes dois pontos: a coincidência da misericórdia de Deus nas duas religiões; o interesse da comunidade muçulmana ao apelo, feito pelo Papa, do Jubileu, para criar uma atitude de misericórdia na vida espiritual e concreta dos fiéis”.

No Alcorão como é o conceito de misericórdia?

“O conceito da misericórdia de Deus no Alcorão é importante. O termo “misericórdia” é amplamente repetido. O Alcorão é dividido em 114 capítulos, e cada um deles evoca o atributo do ser “misericordioso” de Deus. Isso tem um grande significado: recorda uma característica divina, que nós não devemos esquecer. Dezenas e dezenas de vezes o Alcorão recorda isso. Também existem na tradição os ditados que explicam a misericórdia de Deus. Especialmente um ditado do profeta que diz: Quando Deus criou a terra, dividiu a misericórdia em cem partes. Uma parte fez descer sobre a terra através da qual todos os seres vivos são misericordiosos uns com os outros, e manteve consigo 99 partes de misericórdia, para ser misericordioso com as suas criaturas. Isto tem como objetivo ajudar as pessoas a entender que a misericórdia de Deus é infinita, não relativa, como aquela dos seres humanos”.

Vocês se sentem em alguma forma protagonistas deste Jubileu?

“Para o momento somos protagonistas informais. Porém a coisa que mais me interessa e que nós também temos que discutir na Comunidade é a possibilidade de aderir formalmente a este Jubileu. isso, de fato, é uma coisa que nos une a todos”.

Considera possível essa adesão?

“Sim. Mas, não posso prever o que vai acontecer, até que o diretivo não encontre expressão no coletivo”.

O Jubileu pode ser uma oportunidade de encontro, de ponte.

“De ponte nós já construímos muitas, porque são mais de 25 anos que estamos construindo juntos com os nossos irmãos católicos pontes de diálogo. Desta vez devemos ir mais longe. Precisamos criar espaços, laboratórios, em que muçulmanos e cristãos possam conviver juntos mais de um dia, mais de uma ocasião. Tentar construir terrenos em comum, que podemos chamar de laboratórios. Passar mais tempo juntos para se conhecer melhor, conhecer sobre suas tradições e culturas, as culturas do outro. Esses laboratórios são para mim o futuro do diálogo inter-religioso entre muçulmanos e cristãos”.

Também para superar preconceitos…

“Para superar os preconceitos e ignorâncias; para superar os temores que toda pessoa desenvolve de acordo com o ambiente em que vive e onde cresceu”.

Estamos assistindo vários atos de terrorismo. O que leva tantos jovens europeus a se alistarem no Isis?

“Sinceramente, nós precisamos fazer uma pesquisa científica e acadêmica para entender as dinâmicas que estão por trás desse desvio. Assim, a olho nu, penso que as causas disso podem ser a crise econômica, cultural, de identidade, que a pessoa está buscando a si mesmo e não consegue encontrar-se. Também as políticas sociais têm falhado em alguns países. Há mais de uma razão”.

Fabio Mandato

fonte: Vatican Insider