anjos
Os Santos Anjos, como mensageiros e servos de Deus, estão sempre ativos na história da salvação. “Eles aí estão, desde a criação e ao longo de toda a história da salvação, anunciando de longe ou de perto esta salvação e servindo ao desígnio divino de sua realização: fecham o paraíso terrestre, protegem…, salvam…, seguram…, comunicam…, conduzem…, anunciam…, assistem…”[1].

O Papa Bento XVI falou em certa ocasião sobre a presença dos Anjos nos evangelhos: “Excluiríamos uma parte notável do Evangelho, se deixássemos de lado estes seres enviados por Deus”[2]. A leitura dos Atos dos Apóstolos, que relata fatos das primeiras décadas da história da Igreja, mostra como a missão dos Anjos continua depois da ascensão de Cristo em favor da Igreja[3].

No tempo da vida de Santa Faustina Kowalska (1905-1938), no início do século passado, encontramos várias provas sobre a consciência da presença dos Santos Anjos e da devoção a eles na Igreja.

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Em seu Diário ela escreveu: Tenho uma grande devoção por São Miguel Arcanjo. Ele não tinha um exemplo no cumprimento da vontade de Deus, e, no entanto, cumpriu fielmente os desejos de Deus (Diário, 667).

Não foi por medo do diabo, mas por admiração pelas virtudes de São Miguel, que Santa Faustina desenvolveu uma devoção especial a ele. Ela tem consciência de que esse Arcanjo teve que decidir-se sozinho durante a prova dos Anjos. Não podia seguir ou imitar a ninguém. E nesta sua solidão, ele se volveu à Majestade de Deus e se humilhou diante do Seu plano. Desta forma, venceu e salvou-se.

O próprio Deus pediu a São Miguel que cuidasse da nossa Santa de um modo particular. Não sabemos se isto foi fruto da sua especial devoção para com São Miguel, ou de uma necessidade relacionada à sua vocação e missão, ou se precisava de tal assistência em virtude do ódio dos anjos caídos para com ela. O fato é que Santa Faustina sentiu a viva presença deste grande defensor e soldado de Deus:

No dia de São Miguel Arcanjo, vi esse Guia perto de mim. Ele me disse…: “Recomendou-me o Senhor que eu tivesse um especial cuidado por ti. Sabes que és odiada pelo mal, mas não temas. – Quem como Deus!” – E desapareceu. Contudo, continuo a sentir a sua presença e ajuda (Diário, 706) [4].

Os Anjos e a Divina Misericórdia

Em seus escritos, Santa Faustina nos fornece preciosas indicações sobre as relações existentes entre os Anjos e o mistério da Divina Misericórdia, tanto no que diz respeito à origem dos Anjos como à resposta destas criaturas espirituais ao Deus de misericórdia, no céu e na terra.

A ação divina é marcada pela Misericórdia

Uma das características específicas da mensagem de Santa Faustina é o forte acento que recai sobre a misericórdia de Deus, resgatando o ensinamento bíblico e cristão sobre a relevância deste mistério.

Tudo o que existe foi criado pela Misericórdia Divina

Deus Pai, “rico em Misericórdia”[5], criou, em Seu Filho, “todas as coisas, no céu e na terra, os seres visíveis e os invisíveis, tronos, dominações, principados, potestades; tudo foi criado por Ele e para Ele” (Cl 1,16)[6].

Deste modo, os Anjos, criaturas espirituais, são um reflexo desta maravilhosa e poderosa misericórdia de Deus, como explicitamente escreve Santa Faustina: “Todos os Anjos e homens saíram das entranhas da Vossa Misericórdia” (Diário, 651), pois “pela Vossa insondável Misericórdia chamais à existência as criaturas… criastes os espíritos angélicos e os admitistes ao Vosso amor, à Vossa divina intimidade” (Diário, 1741)[7]. Jamais alguma criatura, nem a mais perfeita, teria direito à existência e a tal destino final e perpétuo, assim como Deus os oferece e do modo como os preparou.

Santa Faustina também nos convida a cantar na ladainha da Divina Misericórdia:

Misericórdia Divina, que nenhuma mente, nem humana nem angélica, pode perscrutar (…) enlevo para os Anjos, inefável para os Santos, eu confio em Vós (Diário, 949).

Trechos retirados do livro Os Anjos no Diário de Santa Faustina, da Editora Apostolado da Divina Misericórdia.

[1] Catecismo da Igreja Católica (CIC), 15 de agosto de 1997, n. 332. A existência dos Anjos é afirmada oficialmente pela Igreja, por exemplo, no Concílio Lateranense IV, de 1215 (DS 800).
[2] Angelus, 1º de março de 2009 (in www.vatican.va); cf. CIC 333.
[3] Há pelo menos 20 referências nos Atos; p. ex., At 5,19.
[4] Gilles Jeanguenin destaca a proteção de São Miguel a Santa Faustina em seu estudo sobre o Príncipe dos Anjos (San Michele. Il príncipe degli angeli, Jaca Book, Milano 22005, p. 44).
[5]  Ef 2,4; cf. Lc 6,36; 2Cor 1,3; Hb 2,17; CIC 211.
[6] O centro da eclesiologia da Carta aos Colossenses é o conceito de “corpo” (sôma) – Cristo é a cabeça não só da Igreja, mas de “toda existência” (Udo SCHNELLE, Teologia do Novo Testamento, Academia Cristã – Paulus, S. André – S. Paulo 2010, pp. 718s). É uma “cristologia cósmica” (Lucien CERFAUX, Cristo na Teologia de Paulo, Teológica – Paulus, S. Paulo 2003, p. 350).
[7] “Criaste também os anjos. Nada seriam os Anjos, se não te vissem. É melhor possuir-te na companhia deles do que cair, fora de ti, adorando-os” (S. Agostinho, En. in Psalmos, Sl. 34, I, 13).