Ouvir a voz do Senhor para não deixar que nosso coração endureça

Comentando a liturgia desta quinta-feira (28/03) na Casa Santa Marta, o Papa Francisco fez um forte convite à conversão: advertiu para o risco de se ter um coração que não ouve a voz do Senhor. O fiel que age assim por “dias, meses e anos”, se torna como “a terra sem água”, com o coração endurecido.

No Evangelho de hoje, Jesus é claro: “Quem não está comigo, está contra mim”. “Ou se tem o coração obediente, ou perdemos a fidelidade”, comentou Francisco.

O risco de perder a fidelidade

“Nós, muitas vezes, somos surdos e não ouvimos a voz do Senhor. Sim, ouvimos o telejornal, as fofocas do bairro: isso sim, ouvimos sempre”.

O Senhor exorta a ouvir a sua voz e não endurecer o coração. A Primeira Leitura, extraída do profeta Jeremias, descreve justamente esta experiência de Deus diante do “povo teimoso, que não quer ouvir”, disse o Papa de maneira vigorosa. Este trecho de Jeremias é, portanto, “um pouco a lamentação do Senhor”: Deus ordena ao povo que ouçam a sua voz relacionando-a com a promessa de que sempre será o seu Deus e “vocês serão o meu povo”.

Mas o povo não o ouviu e não prestou atenção; ao contrário, “seguindo as más inclinações do coração, andaram para trás e não para frente e ao invés de se dirigirem a mim, me viraram as costas”. O Papa pediu a cada um para refletir se não fez a mesma coisa.

Um povo sem fidelidade, que perdeu o sentido da fidelidade. E esta é a pergunta que hoje a Igreja quer que nós façamos, cada um: “Eu perdi a fidelidade ao Senhor?” – “Não, não, vou todos os domingos à missa …” – “Sim, sim: mas aquela fidelidade do coração: eu perdi aquela fidelidade ou o meu coração está duro, obstinado, surdo, não deixa entrar o Senhor, se vira sozinho com três ou quatro coisas e depois faz o que quer?”. Esta é uma pergunta para cada um de nós: todos devemos conseguir, porque a Quaresma serve para isso, para restabelecer o nosso coração. “Ouça hoje a voz do Senhor” é o convite da Igreja. “Não endureçam o coração”. Quando alguém vive com o coração duro, que não ouve o Senhor, vai além de não ouvi-lo e quando há algo do Senhor que não gosta, deixa-O de lado com algum pretexto, descreditando o Senhor, caluniando e difamando-O.

Jesus diz: quem não está comigo, está contra mim

“Foi o que aconteceu com Jesus e a multidão”, disse o Papa comentando o Evangelho do dia, para explicar o que significa descreditar o Senhor. Jesus fazia milagres, curava os doentes e esses obstinados o que disseram? “É por meio de Belzebu que Ele expulsa os demônios”, recordou Francisco, acrescentando que “descreditar o Senhor” é “o penúltimo passo dessa rejeição”. O “último passo do qual não há volta é a blasfêmia contra o Espírito Santo”, prosseguiu o Papa, recordando as fortes palavras de Jesus no final do Evangelho:

Jesus tenta convencê-los, mas não consegue… E no final, assim como o profeta termina com esta frase clara – “a fé morreu” – Jesus termina com outra frase que pode nos ajudar: “Quem não está comigo, está contra mim”. “Não, não, eu estou com Jesus, mas mantendo certa distância, não me aproximo muito”: não, isso não existe. Ou você está com Jesus ou contra Jesus; ou é fiel ou infiel; ou tem o coração obediente ou perdeu a fidelidade. Cada um de nós pense, hoje, durante a missa e depois durante o dia: pensar um pouco. “Como vai a minha fidelidade? Eu, para rejeitar o Senhor, procuro algum pretexto?”. Não perder a esperança. E essas duas palavras– “a fé morreu” e “quem não está comigo, está contra mim” – ainda deixam espaço para a esperança, inclusive a nós.

Ainda há tempo de voltar ao Senhor

O Papa conclui a homilia recordando, porém, que somos chamados a regressar ao Senhor, como exorta a fazer a Aclamação ao Evangelho: “Voltai a mim de todo coração”, diz o Senhor, “porque sou misericordioso e piedoso”. “Sim, o seu coração é duro como esta pedra, tantas vezes você me descreditou para não me obedecer, mas ainda há tempo”:

Voltai a mim de todo o coração”, diz o Senhor, “porque eu sou misericordioso e piedoso: esquecerei tudo. A mim importa que você venha. Isso é o que importa, diz o Senhor. E esquece todo o resto. Este é tempo da misericórdia, da piedade do Senhor: abramos o coração para que Ele venha a nós.
 

Fonte: Vatican News